Henry Diner: uma fuga num Dash azul metálico
Figuras 1 a 3. Henri, Eliazer e Springe Dyner, s/d. (Fonte: https://sousamendesfoundation.org/family/dyner-gellert-ingber)
Henri Dyner nasceu em 1936 ou 1937 em Antuérpia, na Bélgica. A 10 de Maio de 1940, quando tinha apenas 3 anos, Henri e a sua família ouvem o bombardeamento nazi ao porto de Antuérpia, pelo que três horas depois, o seu pai, Eliazer Dyner, (que já tinha planeado a fuga) toma a decisão de fugir. Levará o filho, Henri, a mulher Sprince Dyner (nascida Gellert), os sogros (avós maternos de Henri), os cunhados (irmão da mãe de Henri e respetiva esposa) e uma sobrinha, filha destes, e bebé de sete meses que embarcarão no carro de família, um Nash azul metálico, à procura de uma saída do continente europeu.
Figura 4. A rendição da Bélgica, 28 de maio de 1940 (Fonte: https://www.antwerpcommemorates.be/timeline)
Daquela madrugada assustadora e determinante, em Antuérpia, Henri lembra-se “de acordar assustado com o barulho das bombas, a meio da noite de 10 de maio de 1940, e de a minha mãe aparecer a dizer para eu não ter medo porque era o barulho de foguetes ou de trovões e ia passar. Depois, os meus pais ligaram o rádio e ouviram o Rei Leopoldo dizer que o país tinha sido traiçoeiramente invadido pela Alemanha. O meu pai não tinha dúvidas desde 1938 de que ia haver uma guerra, por isso fez um plano".
Figura 5. Um Nash azul metálico, s/d. (Fonte: https://expresso.pt/multimedia/video/2022-10-19-Aristides-desafiou-ordens-e-salvou-Henri-e-milhares-de-pessoas-80-anos-depois-testemunhas-contam-o-que-aconteceu-c280aa9d)
Sobre o que se passou a seguir ao bombardeamento, Henrique recorda-se que o pai “andava a preparar a fuga há algum tempo. O carro estava preparado, tinha gasolina, era um Nash azul metálico, um automóvel americano que já não se fabrica, e tinha gasolina. Éramos oito pessoas lá dentro”.
Continua Henri: “o meu pai tinha previsto a possibilidade de tal potencial conflito, embora acreditasse que a ação militar seria de curta duração. Com isto em mente, ele não queria afastar-se demasiado de Antuérpia e permitia-se estar cerca de 10 kms à frente das tropas alemãs. Foi assim que, no final de Maio de 1940, chegámos a Bordéus.” Eles evitaram as estradas largas e foram pela costa atlântica, o que não evitou terem de parar para se abrigarem numa trincheira devido a um avião que andava a atirar sobre os carros. Quando chegaram a Bordéus, depois de verem aviões alemães a destruir as trincheiras francesas, os Dyner perceberam que não voltariam para Antuérpia tão cedo, pelo que tentaram arranjar vistos para vários países tendo sido recusados em todos os consulados.
Continua Henri: “o meu pai tinha previsto a possibilidade de tal potencial conflito, embora acreditasse que a ação militar seria de curta duração. Com isto em mente, ele não queria afastar-se demasiado de Antuérpia e permitia-se estar cerca de 10 kms à frente das tropas alemãs. Foi assim que, no final de Maio de 1940, chegámos a Bordéus.” Eles evitaram as estradas largas e foram pela costa atlântica, o que não evitou terem de parar para se abrigarem numa trincheira devido a um avião que andava a atirar sobre os carros. Quando chegaram a Bordéus, depois de verem aviões alemães a destruir as trincheiras francesas, os Dyner perceberam que não voltariam para Antuérpia tão cedo, pelo que tentaram arranjar vistos para vários países tendo sido recusados em todos os consulados.
Figura 6. Telegrama de junho de 1940,do MNE, a recusar os vistos a várias famílias, entre elas os Dyner e Gellert (Fonte: http://sousamendesfoundation.org/family/dyner-gellert-ingber)
Foi então que a mãe de Henri se lembrou que conhecia o cônsul português, Aristides de Sousa Mendes, pois tinha trabalhado no Consulado Britânico em Antuérpia e Aristides fora cônsul de Portugal em Antuérpia entre 1929 e 1938. Springe Dyner pede, de facto, vistos para Portugal a Aristides de Sousa Mendes para as famílias Dyner e Gellert, tendo sido enviado o pedido para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas os mesmos foram recusados, através de telegrama de junho de 1940.
Figura 7. Primeira página da Circular n.º 14, de 11 de novembro de 1939, do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) (Fonte: https://vidaspoupadas.idiplomatico.pt/aristides-de-sousa-mendes/documentos/)
Esta recusa prende-se com o facto de estar em vigor a Circular n.º 14, de 11 de novembro de 1939, do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português dirigida aos representantes de Portugal no estrangeiro e que estabeleceu regras restritivas de concessão de vistos e de passaportes para “prevenir quanto possível abusos e práticas de facilidades que a PVDE entende inconvenientes ou perigosas”. Estabelece os casos em que os cônsules não poderão conceder vistos consulares sem prévia consulta ao MNE:
«a) – aos estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio, aos apátridas, aos portadores de passaportes Nansen e aos russos;
b) – aos estrangeiros que não aleguem de maneira que o cônsul julgue satisfatória os motivos da vinda para Portugal e ainda àqueles que apresentem nos seus passaportes a declaração ou qualquer sinal de não poderem regressar livremente ao país de onde provêm; com respeito a todos os estrangeiros devem os cônsules procurar averiguar se têm meios de subsistência.
c) – aos judeus expulsos dos países da sua nacionalidade ou de aqueles de onde provêm;
d) – aos que invocando a circunstância de virem embarcar a um porto português não tenham nos seus passaportes um visto consular bom para dar entrada no país a que se destinam, ou bilhetes de passagem por via marítima ou aérea, ou garantia de embarque das respetivas Companhias. Os cônsules terão porém muito cuidado em não embaraçar a vinda a Lisboa, dos passageiros que se destinam a outros países e especialmente às carreiras aéreas transatlânticas ou para o oriente.»
«a) – aos estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio, aos apátridas, aos portadores de passaportes Nansen e aos russos;
b) – aos estrangeiros que não aleguem de maneira que o cônsul julgue satisfatória os motivos da vinda para Portugal e ainda àqueles que apresentem nos seus passaportes a declaração ou qualquer sinal de não poderem regressar livremente ao país de onde provêm; com respeito a todos os estrangeiros devem os cônsules procurar averiguar se têm meios de subsistência.
c) – aos judeus expulsos dos países da sua nacionalidade ou de aqueles de onde provêm;
d) – aos que invocando a circunstância de virem embarcar a um porto português não tenham nos seus passaportes um visto consular bom para dar entrada no país a que se destinam, ou bilhetes de passagem por via marítima ou aérea, ou garantia de embarque das respetivas Companhias. Os cônsules terão porém muito cuidado em não embaraçar a vinda a Lisboa, dos passageiros que se destinam a outros países e especialmente às carreiras aéreas transatlânticas ou para o oriente.»
Figura 8. Página de vistos de Aristides de Sousa Mendes - Visto n.º 1257 atribuído a Eliazer Dyner, 7 de junho de 1940 (Fonte: http://sousamendesfoundation.org/family/dyner-gellert-ingber)
Apesar da recusa proveniente de Lisboa, Aristides passou os vistos, em datas diferentes, a todos os elementos adultos das duas famílias, tendo nesse espaço de tempo a mãe de Henri chegado mesmo a trabalhar no consulado português a ajudar o pessoal de Sousa Mendes a processar milhares de passaportes de refugiados, assim que ele decidiu “A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião". Henri recorda-se da mãe relatar a pressão e o stress a que Sousa Mendes estava sujeito, com comunicações diárias de Lisboa a negar autorizações para famílias judias obterem vistos de entrada em Portugal.
Figura 9. O navio «Cabo de Buena Esperanza», s/d (Fonte: http://alernavios.blogspot.com/2017/07/cabo-de-buena-esperanza.html)
Depois de obterem os vistos a família de Henri parte para Portugal, onde ficam durante quase um ano, primeiro na Figueira da Foz, depois em Lisboa, tendo partido no navio "Cabo de Buena Esperanza" para a Argentina (os Gellert partem na viagem que chega a Buenos Aires a 3 de maio de 1941), um navio espanhol de utilidade mista (passageiros/carga). Este navio navegou sob pavilhão ibérico ('bandera oro y sangre') desde 1940, ano em que, depois de ter sido adquirido nos Estados Unidos pela Ybarra y Cia., tomou o nome de «María del Carmen». Por muito pouco tempo, já que, ainda nesse mesmo ano, passou a chamar-se, dessa vez definitivamente, «Cabo de Buena Esperanza».
Em 1943, Henri e os pais emigraram para o Brasil, enquanto os seus avós, o seu tio e a sua família permaneceram em Buenos Aires. Henri terminou os seus estudos no Brasil e foi para os EUA com uma bolsa de estudos de pós-graduação. A sua carreira profissional na área da engenharia trouxe-o de volta à Europa, onde casou, mas a família acabou por se mudar para os EUA. Vivem na Florida e em Nova Iorque, e os seus dois filhos e as suas famílias estão na Califórnia. Henri termina o seu testemunho afirmando: “neste período de crescente fanatismo global, o sacrifício pessoal e os valores morais de Sousa Mendes devem destacar-se como exemplo e inspiração para as nossas gerações passadas, presentes e futuras.”
Tendo havido apenas um contacto por email com Henri Dyner, este trabalho baseou-se na consulta da seguinte webgrafia:
https://www.hebrewsurnames.com/arrival_CABO%20DE%20BUENA%20ESPERANZA_1941-05-03
https://expresso.pt/multimedia/video/2022-10-19-Aristides-desafiou-ordens-e-salvou-Henri-e-milhares-de-pessoas-80-anos-depois-testemunhas-contam-o-que-aconteceu-c280aa9d
https://smartencyclopedia.eu/2020/06/19/portugal-finalmente-reconhece-consul-que-salvou-milhares-do-holocausto/
https://sousamendesfoundation.org/family/dyner-gellert-ingber
Trabalho realizado por: Gonçalo Ferreira e Tomás Cruz, 9.º A
Em 1943, Henri e os pais emigraram para o Brasil, enquanto os seus avós, o seu tio e a sua família permaneceram em Buenos Aires. Henri terminou os seus estudos no Brasil e foi para os EUA com uma bolsa de estudos de pós-graduação. A sua carreira profissional na área da engenharia trouxe-o de volta à Europa, onde casou, mas a família acabou por se mudar para os EUA. Vivem na Florida e em Nova Iorque, e os seus dois filhos e as suas famílias estão na Califórnia. Henri termina o seu testemunho afirmando: “neste período de crescente fanatismo global, o sacrifício pessoal e os valores morais de Sousa Mendes devem destacar-se como exemplo e inspiração para as nossas gerações passadas, presentes e futuras.”
Tendo havido apenas um contacto por email com Henri Dyner, este trabalho baseou-se na consulta da seguinte webgrafia:
https://www.hebrewsurnames.com/arrival_CABO%20DE%20BUENA%20ESPERANZA_1941-05-03
https://expresso.pt/multimedia/video/2022-10-19-Aristides-desafiou-ordens-e-salvou-Henri-e-milhares-de-pessoas-80-anos-depois-testemunhas-contam-o-que-aconteceu-c280aa9d
https://smartencyclopedia.eu/2020/06/19/portugal-finalmente-reconhece-consul-que-salvou-milhares-do-holocausto/
https://sousamendesfoundation.org/family/dyner-gellert-ingber
Trabalho realizado por: Gonçalo Ferreira e Tomás Cruz, 9.º A