Concurso de Escrita Criativa «Todos podemos ser heróis?» | Ensino Secundário - ESM
1.º Prémio
Sophie
Tic. Tac. Tic. Tac. Este insuportável metrónomo. Começo a perguntar-me se efetivamente toco com demasiada rapidez, ou se é ele que está sempre atrasado em relação a mim. Não aguento mais estar sempre à frente do tempo: do metrónomo e do meu. Por isso levanto-me, paro o pêndulo e cubro o teclado do piano com o comprido pano escarlate. Observo na mesa o livro de biologia, ainda aberto, ao lado da maçã que não me dei ao trabalho de acabar de comer. Naturezas-mortas acidentais. Possíveis presságios. Ouço chaves a tilintar na fechadura da porta. Hans. Tem de ser ele. O seu sorriso cumprimenta-me sem que precise de proferir uma única palavra. Paz. O silêncio no olho do furacão. Hans levanta delicadamente as duas malas cinzentas que traz consigo e entrega-me uma. «Temos de nos livrar dos panfletos todos entre hoje e amanhã.» diz. Eu assinto, sabendo que não sei bem o que estou a fazer. Pergunto-me porque o faço de todo, se em nome de Deus ou da plena moralidade. Se todos sabem o que se passa, mas não querem arriscar o que têm, ou se simplesmente têm o prazer culpado de viver na ignorância. A verdade é que não tenho a certeza, nem sei se quero ter. Também eu já passei pelas duas.
Quando saio desta espiral de pensamentos percebo que já me encontro na rua. Tic, tac, tic, tac. O barulho dos tacões dos sapatos a bater no pavimento, enquanto acelero o passo para me manter ao lado de Hans, que está sempre um passo à frente em tudo. Curva, e troco a mala de mão, pois já me magoa o braço, contracurva e finalmente chegamos.
Marchamos rapidamente pelo átrio, vazio como o previsto, deixando panfletos pelas mesas e superfícies e paredes, escadas abaixo escadas acima, súplicas de liberdade e “Abaixo Hitler”, olho para o relógio tictac tictac, pouco mais de cinco minutos, voam alguns que aterram na balaustrada, no chão, aos pés de alguém, alguém que não é o Hans e não sou eu…alguém que não parece ser como o Hans ou eu. E agora é uma questão de tempo. Não tivemos tempo, ou será que foi, de facto, suficiente? O meu nome pouco interessa. A verdade é que "rosas brancas" são facilmente manchadas de sangue, o mesmo sangue que o meu coração agora bombeia ansiosamente. Tictactictac.
"Herói". Que palavra tão ambígua. É quem tem a coragem de viver por uma causa, ou de morrer por ela? Poderia Luís XVI, que morreu na guilhotina tal como Sophie, alguma vez ser considerado um herói? Ou é apenas herói quem determina a sua hora própria de morte? Há pouca matéria épica nesse facto por si. Será herói quem pratica o bem? Mas quem, em toda a sua vida, nunca praticou o bem e o mal, tanto em separado como em simultâneo? Mas nem todos somos heróis. Talvez todos possamos ser, ou talvez não existam heróis de todo. Talvez a palavra seja…humanidade.
Tic-
Nota: Sophie Scholl e o irmão Hans fizeram parte da “Rosa Branca”, um grupo antinazi. Em fevereiro de 1943, Sophie foi vista a distribuir panfletos na Universidade e denunciada à Gestapo, sendo ela e o irmão decapitados dias depois.
Inês d'Alte, 12.º G
Tic. Tac. Tic. Tac. Este insuportável metrónomo. Começo a perguntar-me se efetivamente toco com demasiada rapidez, ou se é ele que está sempre atrasado em relação a mim. Não aguento mais estar sempre à frente do tempo: do metrónomo e do meu. Por isso levanto-me, paro o pêndulo e cubro o teclado do piano com o comprido pano escarlate. Observo na mesa o livro de biologia, ainda aberto, ao lado da maçã que não me dei ao trabalho de acabar de comer. Naturezas-mortas acidentais. Possíveis presságios. Ouço chaves a tilintar na fechadura da porta. Hans. Tem de ser ele. O seu sorriso cumprimenta-me sem que precise de proferir uma única palavra. Paz. O silêncio no olho do furacão. Hans levanta delicadamente as duas malas cinzentas que traz consigo e entrega-me uma. «Temos de nos livrar dos panfletos todos entre hoje e amanhã.» diz. Eu assinto, sabendo que não sei bem o que estou a fazer. Pergunto-me porque o faço de todo, se em nome de Deus ou da plena moralidade. Se todos sabem o que se passa, mas não querem arriscar o que têm, ou se simplesmente têm o prazer culpado de viver na ignorância. A verdade é que não tenho a certeza, nem sei se quero ter. Também eu já passei pelas duas.
Quando saio desta espiral de pensamentos percebo que já me encontro na rua. Tic, tac, tic, tac. O barulho dos tacões dos sapatos a bater no pavimento, enquanto acelero o passo para me manter ao lado de Hans, que está sempre um passo à frente em tudo. Curva, e troco a mala de mão, pois já me magoa o braço, contracurva e finalmente chegamos.
Marchamos rapidamente pelo átrio, vazio como o previsto, deixando panfletos pelas mesas e superfícies e paredes, escadas abaixo escadas acima, súplicas de liberdade e “Abaixo Hitler”, olho para o relógio tictac tictac, pouco mais de cinco minutos, voam alguns que aterram na balaustrada, no chão, aos pés de alguém, alguém que não é o Hans e não sou eu…alguém que não parece ser como o Hans ou eu. E agora é uma questão de tempo. Não tivemos tempo, ou será que foi, de facto, suficiente? O meu nome pouco interessa. A verdade é que "rosas brancas" são facilmente manchadas de sangue, o mesmo sangue que o meu coração agora bombeia ansiosamente. Tictactictac.
"Herói". Que palavra tão ambígua. É quem tem a coragem de viver por uma causa, ou de morrer por ela? Poderia Luís XVI, que morreu na guilhotina tal como Sophie, alguma vez ser considerado um herói? Ou é apenas herói quem determina a sua hora própria de morte? Há pouca matéria épica nesse facto por si. Será herói quem pratica o bem? Mas quem, em toda a sua vida, nunca praticou o bem e o mal, tanto em separado como em simultâneo? Mas nem todos somos heróis. Talvez todos possamos ser, ou talvez não existam heróis de todo. Talvez a palavra seja…humanidade.
Tic-
Nota: Sophie Scholl e o irmão Hans fizeram parte da “Rosa Branca”, um grupo antinazi. Em fevereiro de 1943, Sophie foi vista a distribuir panfletos na Universidade e denunciada à Gestapo, sendo ela e o irmão decapitados dias depois.
Inês d'Alte, 12.º G
2.º Prémio
A capa invisível
18 de junho de 1940, França
Querido diário,
Estamos neste momento a quase dez meses de guerra e perseguição às raças como judeus, ciganos, negros...praticamente tudo que não seja a “raça perfeita”, conhecida como raça ariana. Como tal, iniciou-se a «Circular 14» dirigida aos representantes de Portugal no estrangeiro que ordenava a suspensão de vistos a russos, judeus, polacos, apátridas e outros que eram perseguidos pelo regime nazi.
Sou a Anastazja, uma rapariga de 15 anos, filha de judeus e estou neste momento com a minha mãe, num esconderijo em Bayeux, na França.
É estranho para mim estar num esconderijo sendo que deveria, nesta época, como todos os anos, passear nas alegres ruas portuguesas junto com o resto da minha família durante as férias ou então possivelmente no belo «Jardin Public de Bayeux» com os meus amigos a desfrutar de um delicioso lanche a escutar o doce som da natureza. O que daria por ter esses tempos de volta... agora, devido ao começo de uma odiosa guerra que nos atormenta diariamente, já não sinto o sol aquecer-me a face nem a brisa suave de uma manhã de verão... sinto apenas um vazio, um vazio escuro e frio que deseja desaparecer. Mas hoje, hoje será diferente. Neste dia irá iniciar-se uma nova jornada na minha vida, uma etapa que anteriormente me parecia distante.
Lembro-me de me deitar todos os dias na pequena e áspera cama do esconderijo e sonhar sempre com o mesmo – juntar-me à minha restante família em Portugal e finalmente escapar às mãos maldosas dos nazis. Mas isso nunca tinha passado de uma fantasia até o atual 18 de junho, quando descobri que nem todos os heróis usam capa.
Por volta das 14h45 desci as escadas e reparei, no cimo da pequena mesa de madeira no espaço de alimentação, numa carta. Deparando-me com o conteúdo da mesma, vi que o meu sonho se tornou realidade. Alguém emitiu a mim e à minha mãe um visto para a entrada em território nacional português mesmo nós sendo judias. A partir desse momento, herói não era mais a figura que porta um vislumbrante fato e uma enorme capa, é aquele que se destaca por um ato de extraordinária valentia, coragem, força de carácter, aquele que se arrisca pelo bem. É o senhor Aristides de Sousa Mendes, o meu herói, o responsável pelo papel que nos salvou da guerra e da saudade. Saímos de França.
Quando chegamos a Lisboa eram por volta das 21h00 e por isso já se avistava a noite escura na dita “Avenida Cristo Rei”, nome este que me recordou de uma parte da morada escrita no envelope da carta que recebemos ainda em França com a seguinte frase ao lado “Abrigo da humanidade-ASM” Como tal, deduzi que seria o local onde poderíamos ficar até chegar o meu pai e levar-nos para junto dos restantes familiares em Sintra. Tocamos à campainha e abriu-nos a porta um homem alto e magro que ao ver o papel que ainda estava na minha mão sorriu e disse “Bem-vindas a casa”. Entramos e foi-nos servido jantar e fomos orientadas de todos os procedimentos para de manhã quando partiríamos. Dirigiu-nos a um quarto onde passaríamos a noite e amigavelmente se despediu e, quando estava perto da porta para a fechar, disse-lhe: “Obrigada senhor, pelo seu gesto de simpatia. Sou a Anastazja e a minha mãe é Eva, poderia saber o seu nome?” Nisto ele sorriu para mim e disse “«a ressurreição», já li sobre o significado do teu nome, jovem, chamou-me logo atenção quando o vi. Eu sou Aristides de Sousa Mendes, quem emite os vistos para a entrada de estrangeiros em Portugal”. Fez uma pausa e continuou “amanhã... amanhã será a ressurreição, aqui estão em segurança.” Após estas palavras, fechou a porta sem me dar oportunidade de responder. Nisto eu suspirei, feliz, abracei a minha mãe que já estava adormecida e deitei-me junto dela e agradeci a Deus, dizendo:
- Obrigada Senhor, por me mostrar um verdadeiro herói.
Inês Machado, 10.º C
18 de junho de 1940, França
Querido diário,
Estamos neste momento a quase dez meses de guerra e perseguição às raças como judeus, ciganos, negros...praticamente tudo que não seja a “raça perfeita”, conhecida como raça ariana. Como tal, iniciou-se a «Circular 14» dirigida aos representantes de Portugal no estrangeiro que ordenava a suspensão de vistos a russos, judeus, polacos, apátridas e outros que eram perseguidos pelo regime nazi.
Sou a Anastazja, uma rapariga de 15 anos, filha de judeus e estou neste momento com a minha mãe, num esconderijo em Bayeux, na França.
É estranho para mim estar num esconderijo sendo que deveria, nesta época, como todos os anos, passear nas alegres ruas portuguesas junto com o resto da minha família durante as férias ou então possivelmente no belo «Jardin Public de Bayeux» com os meus amigos a desfrutar de um delicioso lanche a escutar o doce som da natureza. O que daria por ter esses tempos de volta... agora, devido ao começo de uma odiosa guerra que nos atormenta diariamente, já não sinto o sol aquecer-me a face nem a brisa suave de uma manhã de verão... sinto apenas um vazio, um vazio escuro e frio que deseja desaparecer. Mas hoje, hoje será diferente. Neste dia irá iniciar-se uma nova jornada na minha vida, uma etapa que anteriormente me parecia distante.
Lembro-me de me deitar todos os dias na pequena e áspera cama do esconderijo e sonhar sempre com o mesmo – juntar-me à minha restante família em Portugal e finalmente escapar às mãos maldosas dos nazis. Mas isso nunca tinha passado de uma fantasia até o atual 18 de junho, quando descobri que nem todos os heróis usam capa.
Por volta das 14h45 desci as escadas e reparei, no cimo da pequena mesa de madeira no espaço de alimentação, numa carta. Deparando-me com o conteúdo da mesma, vi que o meu sonho se tornou realidade. Alguém emitiu a mim e à minha mãe um visto para a entrada em território nacional português mesmo nós sendo judias. A partir desse momento, herói não era mais a figura que porta um vislumbrante fato e uma enorme capa, é aquele que se destaca por um ato de extraordinária valentia, coragem, força de carácter, aquele que se arrisca pelo bem. É o senhor Aristides de Sousa Mendes, o meu herói, o responsável pelo papel que nos salvou da guerra e da saudade. Saímos de França.
Quando chegamos a Lisboa eram por volta das 21h00 e por isso já se avistava a noite escura na dita “Avenida Cristo Rei”, nome este que me recordou de uma parte da morada escrita no envelope da carta que recebemos ainda em França com a seguinte frase ao lado “Abrigo da humanidade-ASM” Como tal, deduzi que seria o local onde poderíamos ficar até chegar o meu pai e levar-nos para junto dos restantes familiares em Sintra. Tocamos à campainha e abriu-nos a porta um homem alto e magro que ao ver o papel que ainda estava na minha mão sorriu e disse “Bem-vindas a casa”. Entramos e foi-nos servido jantar e fomos orientadas de todos os procedimentos para de manhã quando partiríamos. Dirigiu-nos a um quarto onde passaríamos a noite e amigavelmente se despediu e, quando estava perto da porta para a fechar, disse-lhe: “Obrigada senhor, pelo seu gesto de simpatia. Sou a Anastazja e a minha mãe é Eva, poderia saber o seu nome?” Nisto ele sorriu para mim e disse “«a ressurreição», já li sobre o significado do teu nome, jovem, chamou-me logo atenção quando o vi. Eu sou Aristides de Sousa Mendes, quem emite os vistos para a entrada de estrangeiros em Portugal”. Fez uma pausa e continuou “amanhã... amanhã será a ressurreição, aqui estão em segurança.” Após estas palavras, fechou a porta sem me dar oportunidade de responder. Nisto eu suspirei, feliz, abracei a minha mãe que já estava adormecida e deitei-me junto dela e agradeci a Deus, dizendo:
- Obrigada Senhor, por me mostrar um verdadeiro herói.
Inês Machado, 10.º C
3.º Prémio
Toca o despertador e preciso de, no mínimo, meia-hora para ganhar vontade de me levantar. Claro que, depois, arranjar-me é sempre em contrarrelógio, já para nem falar do pequeno-almoço, que é sempre no caminho para a escola… Admito: as segundas-feiras custam imenso.
“Não te esqueças de me ligar quando chegares à escola”. Todas as manhãs ouço isto. E, sinceramente, não percebo. Supostamente, mal chegasse à escola, deveria ir logo para sala de aula sem me atrasar, mas não. Primeiro, tenho de ligar à minha mãe: “Olá, mãe. Cheguei.” - é isso que ela quer ouvir, e não percebo. Já não tenho 10 anos. Tenho 16.
Hoje é o meu primeiro dia de aulas do 10º ano. Se tenho medo? Sim. Se estou preocupada? Sim. É uma mistura de sentimentos que tento esconder com um sorriso enquanto a professora de História faz a chamada. “Como correram as vossas férias?” - uns segundos de silêncio, e de repente, ouve-se uma voz ao fundo dirigida a mim: “Vê-se que ficaste bem morena” (e os típicos risinhos). Era desnecessário. Um comentário desnecessário. E volta o silêncio da sala. Para cortar o clima constrangedor, a professora começou a falar do que iriamos estudar durante o ano: dinastias, Idade média, etc. No fundo, a História de Portugal. Mas mesmo depois disto, ainda houve quem tivesse a ousadia de perguntar porque é que eu estava inscrita na disciplina. Quero deixar algo claro desde já - eu sou portuguesa. Sempre fui. Ao longo dos anos, aprendi que “ignorar”, às vezes, é a decisão mais sensata (em situações como esta, por exemplo). Sei viver assim. Tenho uma cor de pele diferente, mais escura, mas não isso não interfere em nada com quem eu sou. A minha cor não me define.
No intervalo, há uma notícia que está a correr entre todos… Pego no meu telemóvel, vou ver as notícias, e é aí que percebo. Percebo a preocupação que a minha mãe tem todos os dias quando eu saio de casa. Percebo o porquê de ela querer que lhe ligue quando chego à escola. A notícia é sobre George Floyd, um homem negro a quem foi retirada a vida somente por causa da cor da sua pele. E é essa a preocupação da minha mãe. A preocupação de eu, um dia, não chegar a casa, porque fui apanhada na hora errada, no sítio errado, com a cor de pele errada. Algo que não consigo controlar, e assusta.
Aliás, desde pequena que sou tratada de maneira diferente. Não faz sentido! Tenho uma cor de pele escura, mas isso não faz de mim uma pessoa diferente. As raças não existem, antes são um mito, uma fachada. Uma ideia criada e implantada para nos separar. A verdade é que só existe uma raça, a raça humana.
“Abram o vosso manual na página 11. Vamos começar.” – agora sim, vamos começar a dar matéria e, pelo que está escrito nessa página, parece que vamos começar por estudar Martin Luther King. Talvez seja interessante. Não sei.
Isabel Oliveira, 10.º G
“Não te esqueças de me ligar quando chegares à escola”. Todas as manhãs ouço isto. E, sinceramente, não percebo. Supostamente, mal chegasse à escola, deveria ir logo para sala de aula sem me atrasar, mas não. Primeiro, tenho de ligar à minha mãe: “Olá, mãe. Cheguei.” - é isso que ela quer ouvir, e não percebo. Já não tenho 10 anos. Tenho 16.
Hoje é o meu primeiro dia de aulas do 10º ano. Se tenho medo? Sim. Se estou preocupada? Sim. É uma mistura de sentimentos que tento esconder com um sorriso enquanto a professora de História faz a chamada. “Como correram as vossas férias?” - uns segundos de silêncio, e de repente, ouve-se uma voz ao fundo dirigida a mim: “Vê-se que ficaste bem morena” (e os típicos risinhos). Era desnecessário. Um comentário desnecessário. E volta o silêncio da sala. Para cortar o clima constrangedor, a professora começou a falar do que iriamos estudar durante o ano: dinastias, Idade média, etc. No fundo, a História de Portugal. Mas mesmo depois disto, ainda houve quem tivesse a ousadia de perguntar porque é que eu estava inscrita na disciplina. Quero deixar algo claro desde já - eu sou portuguesa. Sempre fui. Ao longo dos anos, aprendi que “ignorar”, às vezes, é a decisão mais sensata (em situações como esta, por exemplo). Sei viver assim. Tenho uma cor de pele diferente, mais escura, mas não isso não interfere em nada com quem eu sou. A minha cor não me define.
No intervalo, há uma notícia que está a correr entre todos… Pego no meu telemóvel, vou ver as notícias, e é aí que percebo. Percebo a preocupação que a minha mãe tem todos os dias quando eu saio de casa. Percebo o porquê de ela querer que lhe ligue quando chego à escola. A notícia é sobre George Floyd, um homem negro a quem foi retirada a vida somente por causa da cor da sua pele. E é essa a preocupação da minha mãe. A preocupação de eu, um dia, não chegar a casa, porque fui apanhada na hora errada, no sítio errado, com a cor de pele errada. Algo que não consigo controlar, e assusta.
Aliás, desde pequena que sou tratada de maneira diferente. Não faz sentido! Tenho uma cor de pele escura, mas isso não faz de mim uma pessoa diferente. As raças não existem, antes são um mito, uma fachada. Uma ideia criada e implantada para nos separar. A verdade é que só existe uma raça, a raça humana.
“Abram o vosso manual na página 11. Vamos começar.” – agora sim, vamos começar a dar matéria e, pelo que está escrito nessa página, parece que vamos começar por estudar Martin Luther King. Talvez seja interessante. Não sei.
Isabel Oliveira, 10.º G