Rudolf Spohr: nazi e oportunista?
Spohr, Rudolf. “Alto, magro, sempre bem vestido”. Frio. Confiante. Um cavalheiro. Assim era descrito este peculiar sujeito, um antigo oficial da Wehrmacht cuja vida é hoje alvo de controvérsia, dividindo até a própria família.
O início desta história teve lugar em Erfurt, uma cidade alemã, a 11 de julho no longínquo ano de 1914. Oriundo de uma família pouco instruída, os seus pais detinham um negócio de banhos e massagens. Em 1920, começa os seus estudos, terminando-os em 1934 com um certificado Abitur. Após concluir o liceu, ainda estagiou como comerciante na firma Döhler até ao despoletar da guerra.
No primeiro dia de maio de 1933, pouco antes de terminar os estudos, Spohr aderiu ao partido nazi. Recebeu, como membro, o número 2.848.617 (dados confirmados pelo seu neto Johannes Spohr através da consulta dos Boletins de Admissão no NSDAP no Bundesarchiv, em Berlim). Paralelamente, completou o serviço militar obrigatório entre abril de 1934 e outubro de 1935, servindo a 2.ª Companhia do Regimento de Infantaria 87 em Kassel, tornando-se tenente na reserva dois anos depois.
O início desta história teve lugar em Erfurt, uma cidade alemã, a 11 de julho no longínquo ano de 1914. Oriundo de uma família pouco instruída, os seus pais detinham um negócio de banhos e massagens. Em 1920, começa os seus estudos, terminando-os em 1934 com um certificado Abitur. Após concluir o liceu, ainda estagiou como comerciante na firma Döhler até ao despoletar da guerra.
No primeiro dia de maio de 1933, pouco antes de terminar os estudos, Spohr aderiu ao partido nazi. Recebeu, como membro, o número 2.848.617 (dados confirmados pelo seu neto Johannes Spohr através da consulta dos Boletins de Admissão no NSDAP no Bundesarchiv, em Berlim). Paralelamente, completou o serviço militar obrigatório entre abril de 1934 e outubro de 1935, servindo a 2.ª Companhia do Regimento de Infantaria 87 em Kassel, tornando-se tenente na reserva dois anos depois.
Figuras 1 e 2. Rudolf Spohr (à esquerda) com o seu superior Ernst Jünger e um soldado cujo nome é desconhecido, no hipódromo perto de Karlsruhe, 1939. (Fonte: https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/sohn-kaempft-fuer-die-ehre-seines-vaters_a_29,0,2346849247.html) e Rudolf Spohr e a sua esposa em Nordenham, Março de 1942 (Fonte: https://reflections.news/de/nur-wer-sich-erinnert-kann-sich-emanzipieren/)
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Rudolf foi corpo ativo na invasão da França em 1940, onde, ao que tudo indica, foi nomeado para o Alto Comando do Exército (OKH). Em 1941, em plena guerra, casa com Eva Cramm, de Nordenham, cidade para onde irá viver no pós-guerra. Já em 1942, passou para o Departamento de Operações do OKH, ocupando-se da frente oriental europeia, na Ucrânia e no Cáucaso[1]. Durante este período Rudolf ocupou sempre a posição de Ordonnanzoffizier (Ajudante de Campo - assistente ou secretário pessoal) de um oficial de hierarquia superior cuja identificação Johannes nunca conseguiu obter, ainda que este considere que não deveria ser dos mais altos quadros do Exército. Como pessoas importantes (surge em fotografias junto de algumas) mencionou o Generaloberst Franz Halder, o Generalleutnant Adolf Heusinger e o Generalfeldmarschall Wilhelm Keitel. Ainda assim, o seu neto não tem a certeza se trabalharam em conjunto diretamente. Johannes identifica apenas Ernst Jünger como tendo sido importante para a sua carreira e que os dois mantiveram contacto ao longo da vida. Rudolf Spohr esteve, ainda, na Wolfsschanze («Toca do Lobo», nome em código de um dos maiores quartéis-generais de Adolf Hitler durante a 2.ª Guerra Mundial), na Prússia Oriental, atual Polónia.
Em 1943, obteve uma medalha pela sua participação na “Campanha da Sicília", em Itália, ao serviço da 29.ª Panzergrenadier Division. Em 1945, foi feito prisioneiro pelos Estados Unidos em Itália e transferido para um campo em Bad Aibling em junho do mesmo ano. Em fevereiro de 1946, foi libertado do cativeiro[2].
Após a guerra, Rudolf estabeleceu-se em Nordenham, na Baixa Saxónia, onde criou a sua família. Nesta cidade, a classe média era praticamente inexistente, mas, apesar disso, entre os anos 60 e 80, a cidade prosperou. O que preencheu este vazio foi a dinamização cultural, através de um programa musical e literário, desenvolvida pela Sociedade Goethe, da qual Spohr foi membro fundador, tendo-se tornado presidente em 1967. Citando o atual presidente da Sociedade Goethe, Dr. Burkhard Leimbach: "o aspeto especial foi que, especialmente no campo da música, ele certificou-se de trazer aqui artistas de primeira classe, nomes conhecidos da música e da literatura. O Sr. Spohr transferiu o dinamismo e a iniciativa que obviamente demonstrou na vida empresarial para a vida cultural". Por isto, esta Sociedade tornou-se a segunda maior a nível nacional e, de certa forma, num pilar fundamental da sociedade na região. Aliás, foi presidente durante 25 anos, adquirindo um estatuto quase mítico na cidade[3].
Figura 3. Rudolf Spohr, em março de 2004. (Fonte: https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/unwuerdigesverhaltennicht-zu-erkennen_a_21,0,1622390417.html)
No entanto, um certo e determinado passado era ignorado. Um passado longínquo. Um passado tenebroso. Apesar de todo este impacto social positivo, Rudolf escondia uma significativa parte da sua história. Negava ter conhecimento sobre o genocídio dos judeus durante a guerra, o que se demonstrou ser falso. Não falava da guerra. Como refere o seu neto Johannes «embora o silêncio em relação à era nazi seja encontrado nas famílias das vítimas e perseguidos, bem como nas dos perpetradores, este silêncio tem causas e efeitos muito diferentes. […] Histórias sobre a época do nacional-socialismo também circulavam na minha família, mas não diziam nada sobre o próprio papel de cada um nele. Era uma espécie de “comunicação seletiva”»[4]. Contudo, Rudolf mantinha um uniforme da Wehrmacht no guarda-roupa, fotos da guerra numa gaveta, medalhas em exibição em casa e ia anualmente a uma reunião de ex-oficiais do alto comando do exército, segundo a sua filha Bettina que, durante décadas, não sabia sequer o que isso significava[5].
Após a sua morte, com 92 anos, em dezembro de 2006, a sua filha Bettina e o neto Johannes tomaram conhecimento sobre este passado, após terem contacto com um grande número de documentos da era nazi. Johannes, historiador, toma, então, a iniciativa de pesquisar em vários arquivos, retratando-o como «um carreirista, em todas as circunstâncias», nomeadamente durante o III Reich, numa entrevista de rádio e em reportagens na imprensa, depois do assunto ter sido tornado público em 2014, quando um jornalista do Deutschlandfunk os contacta. Estas acusações trouxeram à tona o pior que Nordenham tinha para oferecer. Nem a família ficou indiferente. Por outro lado, a partilha desta história suscitou também o interesse de pessoas que agora queriam investigar os seus antepassados.
Michael, primogénito da família Spohr, apesar de inicialmente adotar uma posição estática, rapidamente reagiu em defesa de seu pai. Arrependendo-se de ter providenciado ou permitido que a sua irmã e o sobrinho tivessem acesso aos documentos que serviram de base às "insinuações malcozinhadas", como o próprio as refere, passou ele mesmo ao ataque, deixando a família muito dividida. Michael acusava os seus familiares de interpretarem fotografias e documentos antigos deixados pelo seu pai, encontrados por ele numa caixa no sótão da casa, de forma pejorativa, por terem uma opinião preconcebida e não estarem preparados para a alterarem, como é o caso de um relatório de viagem aos campos judeus na Crimeia em que Rudolf menciona o seu extermínio, referindo que as pessoas assassinadas seriam "esperançosamente" esquecidas pelo mundo. Para Michael, este relatório foi escrito "numa linguagem habitual na época" e nada diz sobre a atitude mental supostamente repreensível de Rudolf Spohr. Já Johannes tem uma posição bastante diferente sobre este relatório: «ele descreve com muita precisão o status da perseguição e assassinato dos judeus em 1942, bem como a transição dos fuzilamentos em massa para os campos de extermínio. Este documento comprova a mentira que rodeou toda a vida do meu avô desde os 45 anos, ou seja, que ele não sabia nada sobre isto, que ele não poderia saber nada sobre os campos, que isso era ultrassecreto e que ele também era contra a guerra, segundo o que sempre me contou”[6].
Michael Spohr alega, ainda, que o certificado emitido pelos militares dos EUA em 1946, que o pai recebeu ao ser libertado do campo de prisioneiros de guerra em Bad Aibling em fevereiro de 1946, como uma indicação da distância de Rudolf Spohr relativamente aos nazis. Na carta, ele é elogiado pela sua disposição em cooperar[7].
[1] https://taz.de/Familiaere-Aufarbeitung/!5030631/
[2] https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/gutachter-entkraeftet-vorwuerfe-gegen-spohr_a_6,1,467699647.html
[3] https://taz.de/Familiaere-Aufarbeitung/!5030631/
[4] https://reflections.news/de/nur-wer-sich-erinnert-kann-sich-emanzipieren/
[5] https://www.deutschlandfunkkultur.de/vergangenheitsbewaeltigung-die-spaete-suche-nach-der-100.html
[6] https://www.deutschlandfunkkultur.de/vergangenheitsbewaeltigung-die-spaete-suche-nach-der-100.html
[7] https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/sohn-kaempft-fuer-die-ehre-seines-vaters_a_29,0,2346849247.html
Em 1943, obteve uma medalha pela sua participação na “Campanha da Sicília", em Itália, ao serviço da 29.ª Panzergrenadier Division. Em 1945, foi feito prisioneiro pelos Estados Unidos em Itália e transferido para um campo em Bad Aibling em junho do mesmo ano. Em fevereiro de 1946, foi libertado do cativeiro[2].
Após a guerra, Rudolf estabeleceu-se em Nordenham, na Baixa Saxónia, onde criou a sua família. Nesta cidade, a classe média era praticamente inexistente, mas, apesar disso, entre os anos 60 e 80, a cidade prosperou. O que preencheu este vazio foi a dinamização cultural, através de um programa musical e literário, desenvolvida pela Sociedade Goethe, da qual Spohr foi membro fundador, tendo-se tornado presidente em 1967. Citando o atual presidente da Sociedade Goethe, Dr. Burkhard Leimbach: "o aspeto especial foi que, especialmente no campo da música, ele certificou-se de trazer aqui artistas de primeira classe, nomes conhecidos da música e da literatura. O Sr. Spohr transferiu o dinamismo e a iniciativa que obviamente demonstrou na vida empresarial para a vida cultural". Por isto, esta Sociedade tornou-se a segunda maior a nível nacional e, de certa forma, num pilar fundamental da sociedade na região. Aliás, foi presidente durante 25 anos, adquirindo um estatuto quase mítico na cidade[3].
Figura 3. Rudolf Spohr, em março de 2004. (Fonte: https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/unwuerdigesverhaltennicht-zu-erkennen_a_21,0,1622390417.html)
No entanto, um certo e determinado passado era ignorado. Um passado longínquo. Um passado tenebroso. Apesar de todo este impacto social positivo, Rudolf escondia uma significativa parte da sua história. Negava ter conhecimento sobre o genocídio dos judeus durante a guerra, o que se demonstrou ser falso. Não falava da guerra. Como refere o seu neto Johannes «embora o silêncio em relação à era nazi seja encontrado nas famílias das vítimas e perseguidos, bem como nas dos perpetradores, este silêncio tem causas e efeitos muito diferentes. […] Histórias sobre a época do nacional-socialismo também circulavam na minha família, mas não diziam nada sobre o próprio papel de cada um nele. Era uma espécie de “comunicação seletiva”»[4]. Contudo, Rudolf mantinha um uniforme da Wehrmacht no guarda-roupa, fotos da guerra numa gaveta, medalhas em exibição em casa e ia anualmente a uma reunião de ex-oficiais do alto comando do exército, segundo a sua filha Bettina que, durante décadas, não sabia sequer o que isso significava[5].
Após a sua morte, com 92 anos, em dezembro de 2006, a sua filha Bettina e o neto Johannes tomaram conhecimento sobre este passado, após terem contacto com um grande número de documentos da era nazi. Johannes, historiador, toma, então, a iniciativa de pesquisar em vários arquivos, retratando-o como «um carreirista, em todas as circunstâncias», nomeadamente durante o III Reich, numa entrevista de rádio e em reportagens na imprensa, depois do assunto ter sido tornado público em 2014, quando um jornalista do Deutschlandfunk os contacta. Estas acusações trouxeram à tona o pior que Nordenham tinha para oferecer. Nem a família ficou indiferente. Por outro lado, a partilha desta história suscitou também o interesse de pessoas que agora queriam investigar os seus antepassados.
Michael, primogénito da família Spohr, apesar de inicialmente adotar uma posição estática, rapidamente reagiu em defesa de seu pai. Arrependendo-se de ter providenciado ou permitido que a sua irmã e o sobrinho tivessem acesso aos documentos que serviram de base às "insinuações malcozinhadas", como o próprio as refere, passou ele mesmo ao ataque, deixando a família muito dividida. Michael acusava os seus familiares de interpretarem fotografias e documentos antigos deixados pelo seu pai, encontrados por ele numa caixa no sótão da casa, de forma pejorativa, por terem uma opinião preconcebida e não estarem preparados para a alterarem, como é o caso de um relatório de viagem aos campos judeus na Crimeia em que Rudolf menciona o seu extermínio, referindo que as pessoas assassinadas seriam "esperançosamente" esquecidas pelo mundo. Para Michael, este relatório foi escrito "numa linguagem habitual na época" e nada diz sobre a atitude mental supostamente repreensível de Rudolf Spohr. Já Johannes tem uma posição bastante diferente sobre este relatório: «ele descreve com muita precisão o status da perseguição e assassinato dos judeus em 1942, bem como a transição dos fuzilamentos em massa para os campos de extermínio. Este documento comprova a mentira que rodeou toda a vida do meu avô desde os 45 anos, ou seja, que ele não sabia nada sobre isto, que ele não poderia saber nada sobre os campos, que isso era ultrassecreto e que ele também era contra a guerra, segundo o que sempre me contou”[6].
Michael Spohr alega, ainda, que o certificado emitido pelos militares dos EUA em 1946, que o pai recebeu ao ser libertado do campo de prisioneiros de guerra em Bad Aibling em fevereiro de 1946, como uma indicação da distância de Rudolf Spohr relativamente aos nazis. Na carta, ele é elogiado pela sua disposição em cooperar[7].
[1] https://taz.de/Familiaere-Aufarbeitung/!5030631/
[2] https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/gutachter-entkraeftet-vorwuerfe-gegen-spohr_a_6,1,467699647.html
[3] https://taz.de/Familiaere-Aufarbeitung/!5030631/
[4] https://reflections.news/de/nur-wer-sich-erinnert-kann-sich-emanzipieren/
[5] https://www.deutschlandfunkkultur.de/vergangenheitsbewaeltigung-die-spaete-suche-nach-der-100.html
[6] https://www.deutschlandfunkkultur.de/vergangenheitsbewaeltigung-die-spaete-suche-nach-der-100.html
[7] https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/sohn-kaempft-fuer-die-ehre-seines-vaters_a_29,0,2346849247.html
Figura 4. O historiador Johannes Spohr investigou intensamente o seu avô Rudolf Spohr. (Fonte: http://gesternistjetzt.de/johannes-spohr/)
Perante a investigação de Johannes, a sociedade Goethe ponderou retirar o título de presidente honorário a Rudolf. Contudo, graças ao trabalho de Michael, a instituição acabou por manter o título.
Sobre a pesquisa que fez sobre o avô, Johannes afirma que «em geral, diria que principalmente "adicionei" partes da biografia ao que já era amplamente conhecido sobre meu avô. No que diz respeito sobre a sua responsabilidade durante a guerra, ela pode até não ser muito extraordinária. O que é extraordinário é falar sobre a normalidade desta época em público, especialmente quando se trata de pessoas conhecidas. As pessoas em Nordenham pareciam estar distraídas por ter a guerra e o Holocausto tão perto delas por meio de citações e fotos».
Não é claro se Rudolf acreditava mesmo no nazismo. Para o seu neto Johannes o avô fazia o que fazia pela sua carreira, recolhendo méritos e reconhecimentos, alheio a tudo o resto. Ou seja, era um oportunista. No entanto, quer ele tenha sido um mero oportunista ou um nazi convicto, quer uma mescla destes dois retratos, o certo é que ele foi um perpetrador. Sete décadas volvidas dos acontecimentos, uma família dividida e uma cidade de opinião fragmentada, Johannes não se arrepende de ter descoberto, investigado e partilhado o passado do avô, mas sente que, “por vezes, é desagradável não poder simplesmente descartar as origens familiares”.
Este trabalho resultou de uma entrevista por email realizada a Johannes Spohr, em março de 2022 e da leitura de diversos testemunhos e entrevistas online da família Spohr.
No processo de revisão deste trabalho, a 21 de julho de 2022, Johannes Spohr enviou, ainda, o seguinte excerto de um artigo seu sobre o avô: «O meu avô fez parte de uma organização criminosa numa guerra de extermínio. Ele próprio afirma isto num documento do período imediato do pós-guerra, que provavelmente teria como objetivo exonerar-se e aos outros face aos poderes Aliados. A Wehrmacht travou uma guerra na Europa Oriental, na qual milhões de prisioneiros de guerra soviéticos e civis foram vítimas. A Wehrmacht esteve comprovadamente envolvida no extermínio da população judaica e dos ciganos, incluindo nas campanhas de assassinato dos Einsatzgruppen. O meu avô fazia parte de um dos elementos mais importantes desta Wehrmacht e tinha um elevado nível de responsabilidade no OKH. Conheço apenas alguns detalhes das mensagens que ele transmitiu. Ordens criminosas tais como a "Ordem dos Comissários" ou as "Diretrizes sobre a Conduta das Tropas na Rússia" (ordens que não respeitavam os princípios internacionais relacionados com o tratamento dos prisioneiros de guerra) vieram da OKH; a OKH foi um ator importante na chamada "luta contra os partisans ou a resistência", o que era frequentemente sinónimo de terror contra a população civil.
O meu avô aparentemente tinha pouca autoridade de comando relevante, aparentemente não tem qualquer culpa "especial", individual. Os documentos revelam parcialmente uma atitude racista, colonial e russofóbica, não há provas significativas de contradição ou de dúvida. Algumas fotografias revelam um certo fascínio, com conotações racistas, pelos países "estrangeiros" ou "exóticos" em que passou tempo. Poder-se-ia ter a impressão de que a guerra nem sequer existia. O meu avô deve ter visto crimes atrozes nestes lugares, mas convencidos pelos olhos do vencedor e da "raça pura".
Ele parece ter realizado o seu trabalho com entusiasmo e ter visto a sua estadia na guerra como uma espécie de férias de aventura, até ter experimentado o lado terrível e mortal da guerra para si próprio em Itália. Na sua maior parte, permaneceu com sucesso nos lugares "agradáveis" da guerra. Só visitou a Frente Oriental em missões de reconhecimento, nunca permanecendo lá por muito tempo.
Em muitos documentos, expressa um certo orgulho devido ao seu bom trabalho. Pertencer à elite da Wehrmacht também significava reconhecimento social. Ainda hoje, posso chamar ao meu avô um oportunista de consciência tranquila, um oportunista e "carreirista" em todas as circunstâncias».
https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/sohn-kaempft-fuer-die-ehre-seines-vaters_a_29,0,2346849247.html#
https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/sohn-kaempft-fuer-die-ehre-seines-vaters_a_29,0,2346849247.html#
https://taz.de/Familiaere-Aufarbeitung/!5030631/
https://reflections.news/de/nur-wer-sich-erinnert-kann-sich-emanzipieren/
http://gesternistjetzt.de/johannes-spohr/
https://www.rbb-online.de/rbbkultur/radio/programm/schema/sendungen/der_zweite_gedanke/archiv/20220120_1900.html
https://www.deutschlandfunkkultur.de/vergangenheitsbewaeltigung-die-spaete-suche-nach-der-100.html
http://gesternistjetzt.de/johannes-spohr/
Trabalho realizado por Carolina Oliveira e João Dias, 11.º I.
Sobre a pesquisa que fez sobre o avô, Johannes afirma que «em geral, diria que principalmente "adicionei" partes da biografia ao que já era amplamente conhecido sobre meu avô. No que diz respeito sobre a sua responsabilidade durante a guerra, ela pode até não ser muito extraordinária. O que é extraordinário é falar sobre a normalidade desta época em público, especialmente quando se trata de pessoas conhecidas. As pessoas em Nordenham pareciam estar distraídas por ter a guerra e o Holocausto tão perto delas por meio de citações e fotos».
Não é claro se Rudolf acreditava mesmo no nazismo. Para o seu neto Johannes o avô fazia o que fazia pela sua carreira, recolhendo méritos e reconhecimentos, alheio a tudo o resto. Ou seja, era um oportunista. No entanto, quer ele tenha sido um mero oportunista ou um nazi convicto, quer uma mescla destes dois retratos, o certo é que ele foi um perpetrador. Sete décadas volvidas dos acontecimentos, uma família dividida e uma cidade de opinião fragmentada, Johannes não se arrepende de ter descoberto, investigado e partilhado o passado do avô, mas sente que, “por vezes, é desagradável não poder simplesmente descartar as origens familiares”.
Este trabalho resultou de uma entrevista por email realizada a Johannes Spohr, em março de 2022 e da leitura de diversos testemunhos e entrevistas online da família Spohr.
No processo de revisão deste trabalho, a 21 de julho de 2022, Johannes Spohr enviou, ainda, o seguinte excerto de um artigo seu sobre o avô: «O meu avô fez parte de uma organização criminosa numa guerra de extermínio. Ele próprio afirma isto num documento do período imediato do pós-guerra, que provavelmente teria como objetivo exonerar-se e aos outros face aos poderes Aliados. A Wehrmacht travou uma guerra na Europa Oriental, na qual milhões de prisioneiros de guerra soviéticos e civis foram vítimas. A Wehrmacht esteve comprovadamente envolvida no extermínio da população judaica e dos ciganos, incluindo nas campanhas de assassinato dos Einsatzgruppen. O meu avô fazia parte de um dos elementos mais importantes desta Wehrmacht e tinha um elevado nível de responsabilidade no OKH. Conheço apenas alguns detalhes das mensagens que ele transmitiu. Ordens criminosas tais como a "Ordem dos Comissários" ou as "Diretrizes sobre a Conduta das Tropas na Rússia" (ordens que não respeitavam os princípios internacionais relacionados com o tratamento dos prisioneiros de guerra) vieram da OKH; a OKH foi um ator importante na chamada "luta contra os partisans ou a resistência", o que era frequentemente sinónimo de terror contra a população civil.
O meu avô aparentemente tinha pouca autoridade de comando relevante, aparentemente não tem qualquer culpa "especial", individual. Os documentos revelam parcialmente uma atitude racista, colonial e russofóbica, não há provas significativas de contradição ou de dúvida. Algumas fotografias revelam um certo fascínio, com conotações racistas, pelos países "estrangeiros" ou "exóticos" em que passou tempo. Poder-se-ia ter a impressão de que a guerra nem sequer existia. O meu avô deve ter visto crimes atrozes nestes lugares, mas convencidos pelos olhos do vencedor e da "raça pura".
Ele parece ter realizado o seu trabalho com entusiasmo e ter visto a sua estadia na guerra como uma espécie de férias de aventura, até ter experimentado o lado terrível e mortal da guerra para si próprio em Itália. Na sua maior parte, permaneceu com sucesso nos lugares "agradáveis" da guerra. Só visitou a Frente Oriental em missões de reconhecimento, nunca permanecendo lá por muito tempo.
Em muitos documentos, expressa um certo orgulho devido ao seu bom trabalho. Pertencer à elite da Wehrmacht também significava reconhecimento social. Ainda hoje, posso chamar ao meu avô um oportunista de consciência tranquila, um oportunista e "carreirista" em todas as circunstâncias».
https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/sohn-kaempft-fuer-die-ehre-seines-vaters_a_29,0,2346849247.html#
https://www.nwzonline.de/wesermarsch/politik/sohn-kaempft-fuer-die-ehre-seines-vaters_a_29,0,2346849247.html#
https://taz.de/Familiaere-Aufarbeitung/!5030631/
https://reflections.news/de/nur-wer-sich-erinnert-kann-sich-emanzipieren/
http://gesternistjetzt.de/johannes-spohr/
https://www.rbb-online.de/rbbkultur/radio/programm/schema/sendungen/der_zweite_gedanke/archiv/20220120_1900.html
https://www.deutschlandfunkkultur.de/vergangenheitsbewaeltigung-die-spaete-suche-nach-der-100.html
http://gesternistjetzt.de/johannes-spohr/
Trabalho realizado por Carolina Oliveira e João Dias, 11.º I.