Concurso de Escrita Criativa «Todos podemos ser heróis?» | 3.º Ciclo - ESM
1.º Prémio
CONSIDERAÇÕES DE ARISTIDES
A escuridão já, desde cedo, se instalara no céu noturno. Poucas pessoas estavam dispostas a enfrentar o desconhecido característico das ruas no auge da noite. A primavera aproximara-se, impiedosamente e rápida. Contudo, não perdurou e o verão já batia à porta . Preso entre os ponteiros do relógio, a rotina monótona mantinha Aristides refém num ciclo incomensurável entre acordar, ir trabalhar e adormecer. Porém, 48 horas antes, fora um dia distinto. Nessa manhã, ele havia recebido ordens expressas para não distribuir vistos a judeus e, como sempre fazia quando algo o incomodava, Aristides marchava silenciosamente pelo quarto, à luz do luar, contemplando as estrelas, que o ajudavam a recordar os entes queridos que a insensível Morte, um dia, lhe havia arrebatado.
“…tenho que descontinuar esta maré de pensamentos e tomar uma decisão definitiva. Recebi ordens diretas para não passar vistos a judeus. A decisão foi tomada por alguém com poder superior ao meu e é meu dever respeitar e obedecer à hierarquia à qual faço parte.”
No entanto, havia algo nele que insistia em suprimir as instruções rigorosas recebidas. Alguns diriam que era o bom senso a florescer e contaminar as suas considerações. Outros, provavelmente mais religiosos, tentariam usar Deus e Sua Boa Vontade como explicação. A autêntica verdade? Aristides não suportava ser a causa de milhares e milhares de cadáveres inanimados e gélidos cujo único “erro” tinha sido fazer parte de uma comunidade religiosa.
“…não me poderei olhar ao espelho se, pelo menos, não ceder às dúvidas que persistem em quebrar a corrente da minha submissão. Há que se ser franco: os judeus que não passarem as fronteiras serão colocados em carruagens que acabam sempre por voltar vazias, sem uma única testemunha para narrar o que acontece no fim da linha férrea.”
Aristides continuou a pisar as mesmas tábuas de madeira que consistiam no chão do seu apartamento, errante, enquanto a sua moralidade era desafiada a cada apressado segundo assinalado pelo seu relógio de bolso. A terrível dor de cabeça derivada da tempestuosa tormenta de pensamentos obrigou-o a fechar os olhos. Quando os abriu, uma criança olhava para ele descaradamente, uma criança que ele sabia ser um devaneio da sua engenhosa imaginação. E mesmo que ele não conhecesse a origem judia da menor, o olhar vacilante e amedrontado nos seus olhos tê-la-ia denunciado. A culpa começou a afogá-lo. Era seu dever ajudá-los. Ele tinha poder para salvar milhares.
“…o que me impede de desconsiderar as ordens que me foram dadas?! O pior cenário possível será a minha família acarretar com as consequências dos meus imprudentes atos. Não acredito que eles tomassem medidas tão extremas, sendo eu uma personalidade à qual é associado respeito moderado. No supremo das punições, matar-me-ão. É assim apenas uma vida em comparação com várias gerações de humanos que têm exatamente o mesmo valor que eu. Somos livres para escolher os nossos caminhos, mas não podemos escolher as consequências que vêm com eles.”
Se a morte fosse a punição adequada para Aristides, o esquecimento que vem com o fim não apagaria inteiramente as pegadas que reconhecessem a presença de Aristides neste mundo exíguo. Além disso, todos acabam por morrer, independentemente do quão heróicos tenham sido os seus atos durante as suas efémeras vidas. Hora após hora no mesmo trilho de reflexões e considerações, Aristides tomou a derradeira decisão: passaria vistos a todas as pessoas que atravessassem a porta do seu gabinete.
Carina Sousa, 9.º C
A escuridão já, desde cedo, se instalara no céu noturno. Poucas pessoas estavam dispostas a enfrentar o desconhecido característico das ruas no auge da noite. A primavera aproximara-se, impiedosamente e rápida. Contudo, não perdurou e o verão já batia à porta . Preso entre os ponteiros do relógio, a rotina monótona mantinha Aristides refém num ciclo incomensurável entre acordar, ir trabalhar e adormecer. Porém, 48 horas antes, fora um dia distinto. Nessa manhã, ele havia recebido ordens expressas para não distribuir vistos a judeus e, como sempre fazia quando algo o incomodava, Aristides marchava silenciosamente pelo quarto, à luz do luar, contemplando as estrelas, que o ajudavam a recordar os entes queridos que a insensível Morte, um dia, lhe havia arrebatado.
“…tenho que descontinuar esta maré de pensamentos e tomar uma decisão definitiva. Recebi ordens diretas para não passar vistos a judeus. A decisão foi tomada por alguém com poder superior ao meu e é meu dever respeitar e obedecer à hierarquia à qual faço parte.”
No entanto, havia algo nele que insistia em suprimir as instruções rigorosas recebidas. Alguns diriam que era o bom senso a florescer e contaminar as suas considerações. Outros, provavelmente mais religiosos, tentariam usar Deus e Sua Boa Vontade como explicação. A autêntica verdade? Aristides não suportava ser a causa de milhares e milhares de cadáveres inanimados e gélidos cujo único “erro” tinha sido fazer parte de uma comunidade religiosa.
“…não me poderei olhar ao espelho se, pelo menos, não ceder às dúvidas que persistem em quebrar a corrente da minha submissão. Há que se ser franco: os judeus que não passarem as fronteiras serão colocados em carruagens que acabam sempre por voltar vazias, sem uma única testemunha para narrar o que acontece no fim da linha férrea.”
Aristides continuou a pisar as mesmas tábuas de madeira que consistiam no chão do seu apartamento, errante, enquanto a sua moralidade era desafiada a cada apressado segundo assinalado pelo seu relógio de bolso. A terrível dor de cabeça derivada da tempestuosa tormenta de pensamentos obrigou-o a fechar os olhos. Quando os abriu, uma criança olhava para ele descaradamente, uma criança que ele sabia ser um devaneio da sua engenhosa imaginação. E mesmo que ele não conhecesse a origem judia da menor, o olhar vacilante e amedrontado nos seus olhos tê-la-ia denunciado. A culpa começou a afogá-lo. Era seu dever ajudá-los. Ele tinha poder para salvar milhares.
“…o que me impede de desconsiderar as ordens que me foram dadas?! O pior cenário possível será a minha família acarretar com as consequências dos meus imprudentes atos. Não acredito que eles tomassem medidas tão extremas, sendo eu uma personalidade à qual é associado respeito moderado. No supremo das punições, matar-me-ão. É assim apenas uma vida em comparação com várias gerações de humanos que têm exatamente o mesmo valor que eu. Somos livres para escolher os nossos caminhos, mas não podemos escolher as consequências que vêm com eles.”
Se a morte fosse a punição adequada para Aristides, o esquecimento que vem com o fim não apagaria inteiramente as pegadas que reconhecessem a presença de Aristides neste mundo exíguo. Além disso, todos acabam por morrer, independentemente do quão heróicos tenham sido os seus atos durante as suas efémeras vidas. Hora após hora no mesmo trilho de reflexões e considerações, Aristides tomou a derradeira decisão: passaria vistos a todas as pessoas que atravessassem a porta do seu gabinete.
Carina Sousa, 9.º C
2.º Prémio
Os meus heróis
Lembro-me do cheiro daquele lugar, o Campo de Concentração. Imagens vivas passam na minha cabeça, mesmo que na altura nem soubesse o que era a religião pela qual eu estava a ser incriminada.
Logo ao sair do comboio vi uma grande multidão e o meu pai agarrou-me a mão. Eu sorria para os guardas com total inocência, mas nenhum deles me olhava com empatia.
Alguns olhavam com superioridade para nós, o “povo impuro”, até cuspiam para as nossas cabeças e pés. Já os mais sensatos não olhavam para o abismo de sofrimento que estava logo a seu lado, talvez conservassem uma réstia de alma. Talvez não soubessem ainda que não estavam ali para trabalhar, mas sim para acabar com as próximas “gerações impuras”.
Lembro-me de olhar para a minha mãe e, no segundo seguinte, ela estar desmaiada, caída ao meu lado, por falta de comida. Um soldado logo a levou para uma fila. O meu pai não soltou a minha mão, limitou-se a chorar em silêncio. Nunca tive a oportunidade de lhe perguntar, mas penso que ele sabia exatamente tudo o que estava a acontecer ali. Separaram-nos em três filas, aí foi a última vez que vi os meus pais. A minha mãe foi mandada para as câmaras de gás, o meu pai para trabalhos pesados e eu fui encaminhada para tarefas domésticas. Mesmo sendo muito jovem era saudável e aparentava ser forte o suficiente para sobreviver àquilo que os “Arianos” queriam.
Dia após dia compreendia melhor o que se passava, criava sonhos e cenários onde me reunia novamente com familiares. Perguntava-me como seria a minha vida quando saísse dali, se algum dia conseguisse sair. Agarrava cada vez mais o judaísmo ao peito, em respeito àqueles que haviam morrido por conta de cabeças quadradas, tentava manter-me otimista.
A esperança de sobrevivência após três meses era nula, até que fui redirecionada para outra área do campo.
Grande parte dos judeus daquela área haviam morrido por conta de uma doença. Lá as regras eram ainda mais estritas. Aí vi muitas coisas que preferia não ter visto, vivi coisas de que me lembro até aos dias de hoje. Havia dias em que via o corpo de alguém pendurado pelo pescoço, juntar-me a esse alguém já não me parecia uma má ideia. Passei por fome, frio e abusos vindos dos soldados ao ponto em que quase não conseguia dormir com as dores.
Numa noite os heróis chegaram, alguns de nós desconfiaram que aqueles soldados armados nos salvariam. Eu apenas acreditei, se não fossem eu não quereria saber de qualquer maneira mas ainda havia a oportunidade, mesmo que minúscula, de ser verdade. De eles realmente nos virem ajudar, tirarem-nos daquele pesadelo. De nos darem a possibilidade de recomeçar, de reconstruir a nossa vida.
Hoje, sou-lhes grata, mesmo que as memórias não possam ser apagadas. Sou quem sou graças a eles. E a todos eles devo um obrigada.
Constança Teixeira, 8.º D
Lembro-me do cheiro daquele lugar, o Campo de Concentração. Imagens vivas passam na minha cabeça, mesmo que na altura nem soubesse o que era a religião pela qual eu estava a ser incriminada.
Logo ao sair do comboio vi uma grande multidão e o meu pai agarrou-me a mão. Eu sorria para os guardas com total inocência, mas nenhum deles me olhava com empatia.
Alguns olhavam com superioridade para nós, o “povo impuro”, até cuspiam para as nossas cabeças e pés. Já os mais sensatos não olhavam para o abismo de sofrimento que estava logo a seu lado, talvez conservassem uma réstia de alma. Talvez não soubessem ainda que não estavam ali para trabalhar, mas sim para acabar com as próximas “gerações impuras”.
Lembro-me de olhar para a minha mãe e, no segundo seguinte, ela estar desmaiada, caída ao meu lado, por falta de comida. Um soldado logo a levou para uma fila. O meu pai não soltou a minha mão, limitou-se a chorar em silêncio. Nunca tive a oportunidade de lhe perguntar, mas penso que ele sabia exatamente tudo o que estava a acontecer ali. Separaram-nos em três filas, aí foi a última vez que vi os meus pais. A minha mãe foi mandada para as câmaras de gás, o meu pai para trabalhos pesados e eu fui encaminhada para tarefas domésticas. Mesmo sendo muito jovem era saudável e aparentava ser forte o suficiente para sobreviver àquilo que os “Arianos” queriam.
Dia após dia compreendia melhor o que se passava, criava sonhos e cenários onde me reunia novamente com familiares. Perguntava-me como seria a minha vida quando saísse dali, se algum dia conseguisse sair. Agarrava cada vez mais o judaísmo ao peito, em respeito àqueles que haviam morrido por conta de cabeças quadradas, tentava manter-me otimista.
A esperança de sobrevivência após três meses era nula, até que fui redirecionada para outra área do campo.
Grande parte dos judeus daquela área haviam morrido por conta de uma doença. Lá as regras eram ainda mais estritas. Aí vi muitas coisas que preferia não ter visto, vivi coisas de que me lembro até aos dias de hoje. Havia dias em que via o corpo de alguém pendurado pelo pescoço, juntar-me a esse alguém já não me parecia uma má ideia. Passei por fome, frio e abusos vindos dos soldados ao ponto em que quase não conseguia dormir com as dores.
Numa noite os heróis chegaram, alguns de nós desconfiaram que aqueles soldados armados nos salvariam. Eu apenas acreditei, se não fossem eu não quereria saber de qualquer maneira mas ainda havia a oportunidade, mesmo que minúscula, de ser verdade. De eles realmente nos virem ajudar, tirarem-nos daquele pesadelo. De nos darem a possibilidade de recomeçar, de reconstruir a nossa vida.
Hoje, sou-lhes grata, mesmo que as memórias não possam ser apagadas. Sou quem sou graças a eles. E a todos eles devo um obrigada.
Constança Teixeira, 8.º D
3.º Prémio
PARÊNTESIS PRELIMINAR: Coloquei entre aspas ou a negrito as palavras a que o leitor fica a dever um pensamento especial, para decifrar ou descobrir este texto plenamente, isto é, todas as suas camadas. Muitas vezes, estas palavras estão relacionadas entre si e não é particularmente atroz à compreensão reparar nisso. No entanto, algumas palavras a negrito (e não só) podem chegar a tornar o texto redundante por estabelecerem relações de semelhança, mas não são negacionistas (“algumas”).
“O DESPLANTE DA PORCARIA”
A uma quantidade recôndita e só aparentemente exorbitante de googol de parsec das ilhas Fiji que testemunham um clima "imergente", viviam num lugar semelhante uns seres de transcendência considerável, só aparente. Para eles, toda a física se limitava a uma gigantesca montanha substancialmente ensolarada e castanha circundada por intrépidos arvoredos, pela sua extensão, e verdejantes. Estes corpos “celestes” não se importavam de emanar uma atmosfera alimentante constantemente límpida e aliciante, de vez em quando.
Na “austrália”, ao alcance do oposto e deveras “desenvolto” lado norte jamais dado a modéstias, havia diversas árvores “primas” entre si. Magnificavam-se os eucaliptos que se faziam avistar a partir de qualquer ponto da ilha, pela sua dimensão. Cresciam em abundância e inexoravelmente a cada ano, evidentemente. Tinham folhas fusiformes, com as habituais terminações nervosas nestes seres, simultaneamente irresponsivos, “responsivos” e existentes, mas eventualmente inexistentes, se “Pensarmos”. Os eucaliptos eram genealogicamente seguidos pelas oliveiras, pinheiros e castanheiros, que cavalgavam para longe do centro da ilha, sendo diferenciados inclusivamente pela altura, desgastada “à rédea solta”. No vistoso âmago deste encanto pitoresco, ainda mais carismaticamente do que os eucaliptos, afixava-se a principal, “pulmonar-amazónica”, ilustre e imperecível árvore, “desencadeando” as suas vizinhas ecologicamente. Afinal, as folhas de todo este bosque estavam sempre lá para os animais coabitantes, nem sempre simbioticamente agradáveis.
Assim paradoxalmente, viviam nas imediações “nortenhas” os mais elevados dos robustos devastadores dessa tremenda beleza que havia permanecido incessante… Só na letra, a sua vida não era mais do que as suas características físicas. Então, porquê viver? Eles respondiam: a cada dia que fluía, as ovelhas ficavam mais brancas e os porcos mais rosados. Os irrefutavelmente meritórios e amici porcos gastavam o seu latim a comandar as humildes e passivas ovelhas, que por sua vez se dedicavam na primeira pessoa a “desplantar” gradualmente a árvore central da ilha, sem gemer nem ladrar. Nelas somente residia um respeito bucólico e indubitável à “Porcaria”. Apesar de parecerem seres inócuos, eram os mais truculentos agressores da ilha, por vezes inconscientemente. O seu quotidiano resumia-se a removerem madeira da fonte, entregá-la, dormirem e comerem. Os porcos ambicionavam “construir” a sua majestosa e opulenta e preciosa e divina e “triunfante” domus, ignorando o restante, ao “serviço” da comunidade oficial das trabalhadoras ovelhas. As ovelhas eram, no fundo, seres mais altos do que os porcos, a despeito de não se darem conta. Na sua opinião, teriam de despender todo o tempo disponível a trabalhar mais-do-que-arduamente na empreitada, subordinadas à Porcaria, de forma a mais tarde beneficiarem da sua estadia no derradeiro e utópico paraíso da ostentação, bem-sucedidas.
Em certo dia, surgiu naquele ecossistema inerentemente masoquista uma ovelha diferente. A sua pele irradiava magneticamente uma bela e sublime cor de pretidão. Não obstante, a vaidade não era coisa que a atingisse. Sentia-se impotente. Todos os dias, sentava-se no seu "pé de laranjeira" preferido e ficava a observar as sucessões de ovelhas a retirarem preciosos ramos, como se eles fossem infinitos. De tão grotescas capacidades mentais, a única sinapse que penetrava o crânio do ser, correspondia a uma memória de quando era mais nova. Amava pastar com a sua mãe à beira-mar e respirar aquela brisa que lhe preenchia as entranhas. Elas não precisavam de berrar simpaticamente entre si, o ambiente era suficiente para que se sentissem infindavelmente dotadas de um propósito. Perguntava-se de onde provinha aquele cheiro incontestavelmente delicioso, o cheiro da sua infância. Será que os seus filhos não poderiam desfrutar de tamanho deleite? Ficava devastada ao ver a única possibilidade para o fornecedor arboral do que consideravam ser o autêntico primor a sumir…
Num ápice, engendrou uma missão. Ela resignava-se a trabalhar, porque o trabalho não era sensato. O que importava era atingir os Porcos, para que a escutassem. Esbaforidamente exasperada, emitia o som (talvez aleatório e esotérico) reiteradamente na intensidade do mais veemente decibel: “Skoltrejt for Klimatet! Skoltrejt for Klimatet! Skoltrejt for Klimatet! Skoltrejt for Klimatet!”. Por muito que tivesse remexido sobre aquela ideia, as pessoas nunca mais tendiam para a mudança, o que não seria propriamente um limite. Séculos depois, vislumbrava-se no seu túmulo “Greta Thunberg” em letra de médico. Havia morrido com queimaduras, a sua casa ardeu.
Porque é que todos podemos ser ovelhas negras no nosso universo?
Porque, às vezes, o que é físico é psicológico e vice-versa, o que não se deve só ao facto do neurónio ser físico. Deve-se também à minha opinião de as físicas ovelhas brancas serem a personalidade climática da população geral. Os físicos porcos são a personalidade climática de “alguns” governos ainda apáticos. Ser uma ovelha negra é transcender no sentido ODS 13. É possível? Deixe-me dar-lhe uma pista: as ovelhas são mais altas do que os porcos, são mais climaticamente influentes do que estes. Você e eu, deixemo-nos de “inocentes” alvuras, desenfademos de andar neste círculo, e sejamos negros. Se está a pensar em racismo ou no yin yang, leia o texto de novo e “afunde-se” nele.
Mesmo assim, este tipo de clima pode ser uma metáfora para climas ainda mais agrestes e ousados quando dependentes de ovelhas, como a Segunda Guerra Mundial e Shoá ou o Apartheid. O nacionalismo, o antissemitismo e o racismo, por exemplo, fizeram, metaforicamente, com que algumas ovelhas confundissem membros da sua comunidade com árvores inanimadas. Contudo, os Justos entre as Nações e/ou ativistas conseguiram encarnar uma pele altruísta e racional, que se estendeu à profundidade da sobrevivência condigna de milhões.
Tu podes ser ovelha negra no teu universo?
Luís Morais, 9.º C
“O DESPLANTE DA PORCARIA”
A uma quantidade recôndita e só aparentemente exorbitante de googol de parsec das ilhas Fiji que testemunham um clima "imergente", viviam num lugar semelhante uns seres de transcendência considerável, só aparente. Para eles, toda a física se limitava a uma gigantesca montanha substancialmente ensolarada e castanha circundada por intrépidos arvoredos, pela sua extensão, e verdejantes. Estes corpos “celestes” não se importavam de emanar uma atmosfera alimentante constantemente límpida e aliciante, de vez em quando.
Na “austrália”, ao alcance do oposto e deveras “desenvolto” lado norte jamais dado a modéstias, havia diversas árvores “primas” entre si. Magnificavam-se os eucaliptos que se faziam avistar a partir de qualquer ponto da ilha, pela sua dimensão. Cresciam em abundância e inexoravelmente a cada ano, evidentemente. Tinham folhas fusiformes, com as habituais terminações nervosas nestes seres, simultaneamente irresponsivos, “responsivos” e existentes, mas eventualmente inexistentes, se “Pensarmos”. Os eucaliptos eram genealogicamente seguidos pelas oliveiras, pinheiros e castanheiros, que cavalgavam para longe do centro da ilha, sendo diferenciados inclusivamente pela altura, desgastada “à rédea solta”. No vistoso âmago deste encanto pitoresco, ainda mais carismaticamente do que os eucaliptos, afixava-se a principal, “pulmonar-amazónica”, ilustre e imperecível árvore, “desencadeando” as suas vizinhas ecologicamente. Afinal, as folhas de todo este bosque estavam sempre lá para os animais coabitantes, nem sempre simbioticamente agradáveis.
Assim paradoxalmente, viviam nas imediações “nortenhas” os mais elevados dos robustos devastadores dessa tremenda beleza que havia permanecido incessante… Só na letra, a sua vida não era mais do que as suas características físicas. Então, porquê viver? Eles respondiam: a cada dia que fluía, as ovelhas ficavam mais brancas e os porcos mais rosados. Os irrefutavelmente meritórios e amici porcos gastavam o seu latim a comandar as humildes e passivas ovelhas, que por sua vez se dedicavam na primeira pessoa a “desplantar” gradualmente a árvore central da ilha, sem gemer nem ladrar. Nelas somente residia um respeito bucólico e indubitável à “Porcaria”. Apesar de parecerem seres inócuos, eram os mais truculentos agressores da ilha, por vezes inconscientemente. O seu quotidiano resumia-se a removerem madeira da fonte, entregá-la, dormirem e comerem. Os porcos ambicionavam “construir” a sua majestosa e opulenta e preciosa e divina e “triunfante” domus, ignorando o restante, ao “serviço” da comunidade oficial das trabalhadoras ovelhas. As ovelhas eram, no fundo, seres mais altos do que os porcos, a despeito de não se darem conta. Na sua opinião, teriam de despender todo o tempo disponível a trabalhar mais-do-que-arduamente na empreitada, subordinadas à Porcaria, de forma a mais tarde beneficiarem da sua estadia no derradeiro e utópico paraíso da ostentação, bem-sucedidas.
Em certo dia, surgiu naquele ecossistema inerentemente masoquista uma ovelha diferente. A sua pele irradiava magneticamente uma bela e sublime cor de pretidão. Não obstante, a vaidade não era coisa que a atingisse. Sentia-se impotente. Todos os dias, sentava-se no seu "pé de laranjeira" preferido e ficava a observar as sucessões de ovelhas a retirarem preciosos ramos, como se eles fossem infinitos. De tão grotescas capacidades mentais, a única sinapse que penetrava o crânio do ser, correspondia a uma memória de quando era mais nova. Amava pastar com a sua mãe à beira-mar e respirar aquela brisa que lhe preenchia as entranhas. Elas não precisavam de berrar simpaticamente entre si, o ambiente era suficiente para que se sentissem infindavelmente dotadas de um propósito. Perguntava-se de onde provinha aquele cheiro incontestavelmente delicioso, o cheiro da sua infância. Será que os seus filhos não poderiam desfrutar de tamanho deleite? Ficava devastada ao ver a única possibilidade para o fornecedor arboral do que consideravam ser o autêntico primor a sumir…
Num ápice, engendrou uma missão. Ela resignava-se a trabalhar, porque o trabalho não era sensato. O que importava era atingir os Porcos, para que a escutassem. Esbaforidamente exasperada, emitia o som (talvez aleatório e esotérico) reiteradamente na intensidade do mais veemente decibel: “Skoltrejt for Klimatet! Skoltrejt for Klimatet! Skoltrejt for Klimatet! Skoltrejt for Klimatet!”. Por muito que tivesse remexido sobre aquela ideia, as pessoas nunca mais tendiam para a mudança, o que não seria propriamente um limite. Séculos depois, vislumbrava-se no seu túmulo “Greta Thunberg” em letra de médico. Havia morrido com queimaduras, a sua casa ardeu.
Porque é que todos podemos ser ovelhas negras no nosso universo?
Porque, às vezes, o que é físico é psicológico e vice-versa, o que não se deve só ao facto do neurónio ser físico. Deve-se também à minha opinião de as físicas ovelhas brancas serem a personalidade climática da população geral. Os físicos porcos são a personalidade climática de “alguns” governos ainda apáticos. Ser uma ovelha negra é transcender no sentido ODS 13. É possível? Deixe-me dar-lhe uma pista: as ovelhas são mais altas do que os porcos, são mais climaticamente influentes do que estes. Você e eu, deixemo-nos de “inocentes” alvuras, desenfademos de andar neste círculo, e sejamos negros. Se está a pensar em racismo ou no yin yang, leia o texto de novo e “afunde-se” nele.
Mesmo assim, este tipo de clima pode ser uma metáfora para climas ainda mais agrestes e ousados quando dependentes de ovelhas, como a Segunda Guerra Mundial e Shoá ou o Apartheid. O nacionalismo, o antissemitismo e o racismo, por exemplo, fizeram, metaforicamente, com que algumas ovelhas confundissem membros da sua comunidade com árvores inanimadas. Contudo, os Justos entre as Nações e/ou ativistas conseguiram encarnar uma pele altruísta e racional, que se estendeu à profundidade da sobrevivência condigna de milhões.
Tu podes ser ovelha negra no teu universo?
Luís Morais, 9.º C