Recensão crítica
Neste livro, Primo Levi relata a sua viagem desde a libertação do campo de Auschwitz, até à sua inesperada chegada a casa, em Turim. Esta sua jornada durou cerca de nove meses; nove meses esgotantes, cheios de paragens pelo desconhecido terreno polaco, ucraniano, russo, romeno, búlgaro, eslovaco, austríaco, alemão, e por fim, por locais não tão desconhecidos a este ser humano, solo italiano e não tão diferente da sua terra natal.
Travou várias amizades, algumas dela inicialmente complicadas: com o grego, Mordo Nahum, o seu sócio de quarenta anos que, à primeira vista, só os sapatos de couro eram notáveis, e também o enorme saco que levava consigo, o que equivalia a esmeradas habilidades mercantis, sendo que estes objectos eram raramente encontrados em alguém que tinha acabado de sair de Auschwitz, e como dizia o grego “Quem não tem sapatos é um palerma.” (p.41); quando chegou ao campo de Bogucice, em Katowice, conheceu o médico de cuidados básicos, Leonardo, com quem trabalhou no consultório, e Maria Fiodorovna, de quem obteve o “propusk”, que o autorizava a entrar e sair do campo quando quisesse, e reencontrou Cesare, que havia conhecido em Auschwitz, e com quem também trabalhara no mercado.
Ao fim dos nove meses, a 19 de Outubro de 1945, Levi chega a casa após uma viagem de comboio que durou trinta e cinco dias. Ninguém o esperava e, muito provavelmente, ele não teria feito esta surpresa à família se não fosse a pessoa que fosse e, assim, criar as amizades que criou e que o ajudaram por vários momentos difíceis, desde a Buna até Turim.
Neste livro, Primo Levi relata a sua viagem desde a libertação do campo de Auschwitz, até à sua inesperada chegada a casa, em Turim. Esta sua jornada durou cerca de nove meses; nove meses esgotantes, cheios de paragens pelo desconhecido terreno polaco, ucraniano, russo, romeno, búlgaro, eslovaco, austríaco, alemão, e por fim, por locais não tão desconhecidos a este ser humano, solo italiano e não tão diferente da sua terra natal.
Travou várias amizades, algumas dela inicialmente complicadas: com o grego, Mordo Nahum, o seu sócio de quarenta anos que, à primeira vista, só os sapatos de couro eram notáveis, e também o enorme saco que levava consigo, o que equivalia a esmeradas habilidades mercantis, sendo que estes objectos eram raramente encontrados em alguém que tinha acabado de sair de Auschwitz, e como dizia o grego “Quem não tem sapatos é um palerma.” (p.41); quando chegou ao campo de Bogucice, em Katowice, conheceu o médico de cuidados básicos, Leonardo, com quem trabalhou no consultório, e Maria Fiodorovna, de quem obteve o “propusk”, que o autorizava a entrar e sair do campo quando quisesse, e reencontrou Cesare, que havia conhecido em Auschwitz, e com quem também trabalhara no mercado.
Ao fim dos nove meses, a 19 de Outubro de 1945, Levi chega a casa após uma viagem de comboio que durou trinta e cinco dias. Ninguém o esperava e, muito provavelmente, ele não teria feito esta surpresa à família se não fosse a pessoa que fosse e, assim, criar as amizades que criou e que o ajudaram por vários momentos difíceis, desde a Buna até Turim.
“A Trégua”, publicado em 1963, é um livro com uma linguagem clara, que trata a vida de Primo Levi após a libertação do campo de Auschwitz. Neste espaço de tempo, entre a libertação do italiano e a publicação deste livro, passaram-se cerca de 18 anos. E em 1997, realizado por Francesco Rosi, “La Tregua” chega aos olhos do público com John Turturro no papel de Primo Levi.
Sendo este a continuação de “Se Isto É Um Homem”, nos primeiros capítulos o autor retrata a vida no campo depois da chegada dos russos. Hurbinek, o sem-nome, filho da miséria e da luta pela sobrevivência, um rapazito de 3 anos, imobilizado dos rins para baixo e que não falava, foi “adoptado” por Henek, um jovem húngaro de 15 anos. O húngaro tratava dele com todo o cuidado, como uma mãe trata um filho, sem repugnância. Ao fim de uma semana, Henek afirmou que Hurbinek dissera uma palavra, a “palavra-mistério”. Nunca ninguém soube o que ele dizia, nem ninguém ouvirá mais nenhuma palavra dele, pois o menino de Auschwitz morreu no princípio de Março de 1945, e nada resta dele para além deste seu testemunho através das palavras de Primo Levi. Hurbinek e Henek formaram uma das histórias que no livro mais me tocou, pois o rapazito não foi abandonado pelo seu protector até que não respirasse mais.
Outro dos meus momentos preferidos foi quando, no caminho até à Casa Vermelha, em Staryje Doroghi, o indominável Cesare decidira procurar uma galinha para assar e Levi ofereceu-se para o acompanhar. Foram os dois por um carreiro que Cesare havia encontrado e que, pelas condições em que este se encontrava, suspeitava que talvez existisse uma aldeia não muito longe da cabana onde se tinham instalado. Quando chegaram ao seu destino, gritaram e ninguém respondia aos “Italianski”, até que soou o disparar de uma arma não muito longe deles e, irritado, o homem que tanto desejava a galinha, gritou novamente, dizendo que não eram inimigos, e que só queriam uma “galinhita”. A população começou a aparecer, e após várias tentativas de troca de objectos com algum valor por uma galinha, Cesare, já farto da situação e do problema de comunicação, começou a imitar os hábitos galináceos, ao qual não obteve nenhuma resposta do seu público. Mas mais paciente, Primo leva um dos habitantes até um local luminoso, e desenha no chão uma galinha, e propõe a troca dos pratos que ele e o seu parceiro tinham, por um animal igual àquele ilustrado. “Cúritza” foi a palavra mais pronunciada pelos habitantes após o espectáculo de imitações. Uma velha trouxe-lhes a galinha já depenada, deu-se a troca, e ambos voltaram à cabana, para junto de Leonardo, Daniele e do senhor Unverdorben. Penso que este foi um dos momentos mais cómicos do livro.
Depois da leitura do “Se Isto É Um Homem”, recomendo a todas as pessoas que leiam a sua continuação, não só porque a história de Levi ainda não acabou nem nunca acabará, mas também devido ao que podemos retirar, para nós, do livro: a amizade que perdura; os amigos que se perdem e ganham; as coisas que se têm, por vezes, de fazer para sobreviver mais um dia; entre outras que saberão, caso leiam o livro.
Beatriz Serôdio, 9.º B
Sendo este a continuação de “Se Isto É Um Homem”, nos primeiros capítulos o autor retrata a vida no campo depois da chegada dos russos. Hurbinek, o sem-nome, filho da miséria e da luta pela sobrevivência, um rapazito de 3 anos, imobilizado dos rins para baixo e que não falava, foi “adoptado” por Henek, um jovem húngaro de 15 anos. O húngaro tratava dele com todo o cuidado, como uma mãe trata um filho, sem repugnância. Ao fim de uma semana, Henek afirmou que Hurbinek dissera uma palavra, a “palavra-mistério”. Nunca ninguém soube o que ele dizia, nem ninguém ouvirá mais nenhuma palavra dele, pois o menino de Auschwitz morreu no princípio de Março de 1945, e nada resta dele para além deste seu testemunho através das palavras de Primo Levi. Hurbinek e Henek formaram uma das histórias que no livro mais me tocou, pois o rapazito não foi abandonado pelo seu protector até que não respirasse mais.
Outro dos meus momentos preferidos foi quando, no caminho até à Casa Vermelha, em Staryje Doroghi, o indominável Cesare decidira procurar uma galinha para assar e Levi ofereceu-se para o acompanhar. Foram os dois por um carreiro que Cesare havia encontrado e que, pelas condições em que este se encontrava, suspeitava que talvez existisse uma aldeia não muito longe da cabana onde se tinham instalado. Quando chegaram ao seu destino, gritaram e ninguém respondia aos “Italianski”, até que soou o disparar de uma arma não muito longe deles e, irritado, o homem que tanto desejava a galinha, gritou novamente, dizendo que não eram inimigos, e que só queriam uma “galinhita”. A população começou a aparecer, e após várias tentativas de troca de objectos com algum valor por uma galinha, Cesare, já farto da situação e do problema de comunicação, começou a imitar os hábitos galináceos, ao qual não obteve nenhuma resposta do seu público. Mas mais paciente, Primo leva um dos habitantes até um local luminoso, e desenha no chão uma galinha, e propõe a troca dos pratos que ele e o seu parceiro tinham, por um animal igual àquele ilustrado. “Cúritza” foi a palavra mais pronunciada pelos habitantes após o espectáculo de imitações. Uma velha trouxe-lhes a galinha já depenada, deu-se a troca, e ambos voltaram à cabana, para junto de Leonardo, Daniele e do senhor Unverdorben. Penso que este foi um dos momentos mais cómicos do livro.
Depois da leitura do “Se Isto É Um Homem”, recomendo a todas as pessoas que leiam a sua continuação, não só porque a história de Levi ainda não acabou nem nunca acabará, mas também devido ao que podemos retirar, para nós, do livro: a amizade que perdura; os amigos que se perdem e ganham; as coisas que se têm, por vezes, de fazer para sobreviver mais um dia; entre outras que saberão, caso leiam o livro.
Beatriz Serôdio, 9.º B