No passado dia 25 de janeiro de 2013, evocou-se, na Escola Secundária de Vilela, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto com a atividade «Pode Acontecer de Novo», preparada pelos alunos do Projeto N.O.M.E.S. Assim, em todas as salas de aula da escola, foi colocado um envelope contendo uma carta que contextualizava a atividade que começava pelo visionamento do vídeo «Pode acontecer de novo», produzido pelo mesmo Projeto.
Depois de visionarem o vídeo alunos e professores foram convidados, na medida do que lhes era possível, a refletir sobre a temática do Holocausto, tendo por base um conjunto de atividades, para que a memória seja capaz de combater a indiferença…
Para que a memória permaneça, fica aqui transcrito o texto que ilustrou o vídeo, com adaptações de uma reportagem da SIC e citações de Primo Levi...
Depois de visionarem o vídeo alunos e professores foram convidados, na medida do que lhes era possível, a refletir sobre a temática do Holocausto, tendo por base um conjunto de atividades, para que a memória seja capaz de combater a indiferença…
Para que a memória permaneça, fica aqui transcrito o texto que ilustrou o vídeo, com adaptações de uma reportagem da SIC e citações de Primo Levi...
Aluno 1: Eram três da tarde de um sábado, 27 de Janeiro de 1945, quando as tropas soviéticas entraram em Auschwitz Birkenau.
Aluno 2: Sobre o dia anterior, escreveu Primo Levi: «Jazíamos num mundo de mortos e de larvas. O último vestígio de civilização desaparecera à nossa volta e dentro de nós. A obra de animalização, começada pelos alemães triunfantes, fora levada a cabo pelos alemães derrotados.
É homem quem mata, é homem quem faz ou sofre injustiças; não é homem quem, perdida qualquer vergonha, divide a cama com um cadáver. Quem esperou que o seu vizinho acabasse de morrer para lhe tirar um quarto de pão está, embora sem culpa própria, mais afastado do modelo do homem pensante do que o pigmeu mais selvagem e o sádico mais atroz.»
Aluno 3: «Madrugada. No chão, [jaz] a infame confusão de membros ressequidos, a coisa Sómogyi. Há trabalhos mais urgentes; não podemos lavar-nos, por isso, só podemos mexer nele depois de termos cozinhado e comido. E, além disso, […] é preciso esvaziar o balde. Os vivos são mais exigentes; os mortos podem esperar. Começamos a trabalhar como todos os dias.
Os russos chegaram enquanto Charles e eu levávamos Sómogyi para um lugar um pouco afastado. Estava muito leve. Virámos a maca na neve cinzenta.
Charles tirou o boné. Tive pena de não ter boné.»
Aluno 4: Alexander Vorontsov, fotógrafo ao serviço das tropas soviéticas, capturou com a sua câmara um pesadelo vivo. Sem condições, sombras do que haviam sido, os cerca de 7000 libertados de Auschwitz, entre os quais Primo Levi, arrastavam-se por entre os soviéticos num misto de acabrunhado reconhecimento e o único alívio de uma condenação que parecia irremediavelmente perpétua. Para muitos foi definitiva.
Aluno 5: Estima-se em mais de um milhão o número de judeus que perdeu a vida em Auschwitz, em plena concretização da denominada «Solução Final do Problema Judeu» - o extermínio sistemático do povo judaico, perpetrada pelo regime nazi entre 1933 e 1945.
Aluno 6: Desprotegidos, aglomerados em condições infra-humanas, agonizando na incerteza do dia seguinte, os enclausurados de Auschwitz sofreram a mais dura das penas: viver despojados de vida. Perderam tudo, a liberdade, a família, a vida guardada à pressa na mala de uma madrugada que mais não foi que um prolongamento da noite.
Aluno 7: Os sobreviventes, os 7000 vestígios de homens e mulheres, pesavam entre 23 e 35 kilos. Muitos outros haviam sido transferidos apenas 10 dias antes. Perante a inevitável derrota germânica, os nazis procederam ao desmantelamento faseado do complexo e as câmaras de gás e os crematórios foram o primeiro alvo de destruição desse desmantelamento. E por causa destas e outras destruições, tantos hoje negam o que realmente aconteceu. Não era por acaso que os membros das SS se divertiam a avisar cinicamente os prisioneiros, como contou Primo Levi: «Seja como for que esta guerra acabe, a guerra contra vós fomos nós a vencê-la; nenhum de vós ficará para dar testemunho, mas mesmo se algum escapar, o mundo não acreditará nele, (…) porque nós vamos destruir as provas juntamente convosco.»
Aluno 8: Num tempo em que as testemunhas do Holocausto estão a desaparecer, é cada vez mais importante recordar que o Holocausto aconteceu. «Aconteceu contra todas as previsões; aconteceu na Europa; incrivelmente, aconteceu que um povo inteiro civilizado (…) seguisse uma figura que hoje provoca o riso; e no entanto Adolf Hitler foi obedecido e elogiado até à catástrofe. Aconteceu, portanto pode acontecer de novo.»
Aluno 9: O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, comemorado anualmente no dia 27 de janeiro, foi criado pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, a 1 de novembro de 2005.
Em 2010, a Assembleia da República determinou associar-se à comemoração internacional, lembrando e homenageando a memória das vítimas que pereceram, assim como assumir o compromisso de promover a memória e a educação sobre o Holocausto nas escolas e universidades, nas nossas comunidades e outras instituições, para que o não esqueçam as gerações futuras.
Poema "Se isto é um homem", de Primo Levi
Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece a paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelo e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa, andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entrave,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
Aluno 2: Sobre o dia anterior, escreveu Primo Levi: «Jazíamos num mundo de mortos e de larvas. O último vestígio de civilização desaparecera à nossa volta e dentro de nós. A obra de animalização, começada pelos alemães triunfantes, fora levada a cabo pelos alemães derrotados.
É homem quem mata, é homem quem faz ou sofre injustiças; não é homem quem, perdida qualquer vergonha, divide a cama com um cadáver. Quem esperou que o seu vizinho acabasse de morrer para lhe tirar um quarto de pão está, embora sem culpa própria, mais afastado do modelo do homem pensante do que o pigmeu mais selvagem e o sádico mais atroz.»
Aluno 3: «Madrugada. No chão, [jaz] a infame confusão de membros ressequidos, a coisa Sómogyi. Há trabalhos mais urgentes; não podemos lavar-nos, por isso, só podemos mexer nele depois de termos cozinhado e comido. E, além disso, […] é preciso esvaziar o balde. Os vivos são mais exigentes; os mortos podem esperar. Começamos a trabalhar como todos os dias.
Os russos chegaram enquanto Charles e eu levávamos Sómogyi para um lugar um pouco afastado. Estava muito leve. Virámos a maca na neve cinzenta.
Charles tirou o boné. Tive pena de não ter boné.»
Aluno 4: Alexander Vorontsov, fotógrafo ao serviço das tropas soviéticas, capturou com a sua câmara um pesadelo vivo. Sem condições, sombras do que haviam sido, os cerca de 7000 libertados de Auschwitz, entre os quais Primo Levi, arrastavam-se por entre os soviéticos num misto de acabrunhado reconhecimento e o único alívio de uma condenação que parecia irremediavelmente perpétua. Para muitos foi definitiva.
Aluno 5: Estima-se em mais de um milhão o número de judeus que perdeu a vida em Auschwitz, em plena concretização da denominada «Solução Final do Problema Judeu» - o extermínio sistemático do povo judaico, perpetrada pelo regime nazi entre 1933 e 1945.
Aluno 6: Desprotegidos, aglomerados em condições infra-humanas, agonizando na incerteza do dia seguinte, os enclausurados de Auschwitz sofreram a mais dura das penas: viver despojados de vida. Perderam tudo, a liberdade, a família, a vida guardada à pressa na mala de uma madrugada que mais não foi que um prolongamento da noite.
Aluno 7: Os sobreviventes, os 7000 vestígios de homens e mulheres, pesavam entre 23 e 35 kilos. Muitos outros haviam sido transferidos apenas 10 dias antes. Perante a inevitável derrota germânica, os nazis procederam ao desmantelamento faseado do complexo e as câmaras de gás e os crematórios foram o primeiro alvo de destruição desse desmantelamento. E por causa destas e outras destruições, tantos hoje negam o que realmente aconteceu. Não era por acaso que os membros das SS se divertiam a avisar cinicamente os prisioneiros, como contou Primo Levi: «Seja como for que esta guerra acabe, a guerra contra vós fomos nós a vencê-la; nenhum de vós ficará para dar testemunho, mas mesmo se algum escapar, o mundo não acreditará nele, (…) porque nós vamos destruir as provas juntamente convosco.»
Aluno 8: Num tempo em que as testemunhas do Holocausto estão a desaparecer, é cada vez mais importante recordar que o Holocausto aconteceu. «Aconteceu contra todas as previsões; aconteceu na Europa; incrivelmente, aconteceu que um povo inteiro civilizado (…) seguisse uma figura que hoje provoca o riso; e no entanto Adolf Hitler foi obedecido e elogiado até à catástrofe. Aconteceu, portanto pode acontecer de novo.»
Aluno 9: O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, comemorado anualmente no dia 27 de janeiro, foi criado pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, a 1 de novembro de 2005.
Em 2010, a Assembleia da República determinou associar-se à comemoração internacional, lembrando e homenageando a memória das vítimas que pereceram, assim como assumir o compromisso de promover a memória e a educação sobre o Holocausto nas escolas e universidades, nas nossas comunidades e outras instituições, para que o não esqueçam as gerações futuras.
Poema "Se isto é um homem", de Primo Levi
Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece a paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelo e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa, andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entrave,
Que os vossos filhos vos virem a cara.