O encontro emotivo de nove alunos do Projeto NOMES com Esther Bejarano, sobrevivente da orquestra feminina de Auschwitz, na Escola Alemã de Lisboa. "A música salvou-me a vida". Não esqueçam. Não à guerra. Consultar artigo completo nas atividades da Edição 10 do Projeto.
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Não tenho muitas palavras para descrever o que se passou hoje, na Biblioteca da Escola Secundária da Maia, 75 anos e 1 dia após a libertação de Auschwitz. Cerca de oitenta alunos e uma dezena de professores tiveram o privilégio de ouvir uma conversa intensa e quase comovente entre o escritor José Rui Teixeira e o professor Jorge Pinho, sobre a literatura e a barbárie (ontem e hoje) que foi muito mais do que isso. Foi um momento de partilha, de reflexão, de humanismo, de memória sobre a história e a memória da humanidade, sobre a história e as memórias de cada um de nós. Falou-se da impossibilidade provocatória de Adorno sobre a poesia depois de Auschwitz. Falou-se do Holocausto e de outros genocídios e de como o ser humano constrói as utopias sobre pilhas de cadáveres. Falou-se que o mal não é protagonizado por monstros ou psicopatas, que todos temos o mal dentro de nós, que o que nos distingue do nosso colega que andou na escola primária na sala ao lado da nossa e que agora está preso entre homicidas pode ser apenas um acaso, uma circunstância que nos proporcionou a escolha do bem e não do mal. Falou-se de transcendência e de como pode haver Deus depois de Auschwitz? Falou-se da importância da memória e do esquecimento e de um equilíbrio que tem de existir entre estas duas esferas. Falou-se de muros que se constroem no interior dos sobreviventes para que o seu sofrimento não contagie os que se amam – as memórias de Suzana, a mãe de Mirko Stefanovic, uma das escolhidas de Mengele para experiências médicas, não ultrapassariam uma página se o filho quisesse colocar no papel tudo o que ela lhe contou sobre o campo. «Sem detalhes, sem comentários amargos e sem sinais de raiva.» Mas falou-se também de Primo Levi e da importância de escrever na primeira pessoa porque os sobreviventes estão a desaparecer. Falou-se do seu suicídio e que ele teria morrido quarenta anos antes. Falou-se do espanto, porque não dizer ignomínia?, que é visitar Auschwitz como um ponto turístico ou ler Auschwitz como uma marca comercial destinada ao sucesso editorial. Falou-se da importância da arte e da literatura para evitar ou resistir às barbáries, mas que foram também a arte e a literatura que foram usadas para as fundamentar e propagar. «Não vamos a Auschwitz» disse-nos José Rui Teixeira. «Eu vou a Auschwitz». Sozinho. Ao fim de muito tempo. Sentindo o peso da morte em cada peça do vestuário. Olhando – inscrevendo em mim – cada um daqueles rostos que ali sobreviveram um dia, dois dias e que, ali, não passaram de um número, 26300. Mas afinal é um homem, judeu polaco, de nome Maier Karas, nascido em Szczuki, em 1884. Afinal é um poema que não se pode escrever.
Em nome do Projeto N.O.M.E.S., obrigada ao José Rui Teixeira pelo seu extraordinário e humano testemunho, obrigada ao Jorge Pinho por ter transformado este momento numa conversa tão enriquecedora, obrigada à Neusa Fernandes e à Fernanda Teles pelo acolhimento e colaboração, obrigada à Lídia Castro pelo desenho precioso que a sua aluna de Artes Visuais ofereceu ao nosso convidado, obrigada a todos os alunos e professores que estiveram presentes, obrigada aos alunos do projeto que nos mostraram que a poesia também podia estar ali, depois de Auschwitz. [Sandra Costa] Foram, hoje, anunciados os vencedores do Desafio/Concurso de Escrita Criativa «A Arte e a Barbárie: da imagem à escrita», dinamizado pelo Projeto N.O.M.E.S. e pela Biblioteca /C.R.E da Escola Secundária da Maia. Os prémios foram entregues pelo escritor José Rui Teixeira. Parabéns a todos os participantes.
Vencedora na categoria do Ensino Básico/3.º Ciclo: Inês d'Alte, do 9.º B, com o texto «Borboletas». Vencedora na categoria do Ensino Secundário: Inês Lapa, do 10.º A, com o texto «Chamam-me Morte». Menção honrosa na categoria do Ensino Secundário: Vasco Carneiro, do 11.º J, com o texto «Auschwitz não tem primavera». No passado dia 15 de janeiro de 2020, os 35 alunos que frequentam o Projeto N.O.M.E.S. (Nomes e Olhares para a Memória e o Ensino do Holocausto) visitaram a Sinagoga do Porto e o recém-criado, e ainda não aberto ao público, Museu Judaico da cidade, acompanhados pelas docentes Adília Vale, Neusa Fernandes e Sandra Costa, sob a orientação excelente e sempre atenta do Dr. Hugo Vaz.
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Autor(es)Projeto N.O.M.E.S. Arquivos
July 2023
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